Fausto Matto Grosso: "O Trololó"
A
democracia brasileira, tão judiada por décadas de ditaduras no
século passado, não conseguiu consolidar partidos programáticos.
Na maior parte dos casos, estes são meros ajuntamentos pragmáticos
para disputa de eleições para realizar projetos de poder.
A
partir de 2009 foi tornada obrigatória a apresentação das
“propostas defendidas pelo candidato a Prefeito, a Governador de
Estado e a Presidente da República”, por ocasião do registro das
candidaturas. Todos os candidatos presidenciais, portanto, colocaram
lá no TSE algum documento ao qual se referiram como propostas de
governo. Tenho convicção de que, na maior parte dos casos, isso se
fez por mera obrigação, sem nenhum compromisso com o programa real
de governo.
No
processo de “fusão” entre o PSB e a Rede Sustentabilidade que
resultou na filiação e posterior candidatura de Marina, foi
costurado um pacto para mudanças profundas na política brasileira.
Assim nasceu a proposta da Nova Política, uma confluência
político-ideológica, à qual o PPS se somou desde a primeira hora.
Baseado
nesses fundamentos surgiu o Programa de Governo de Marina Silva, um
documento de mais de 200 páginas, elaborado em discussão com
inúmeros especialistas e segmentos da sociedade. É esse o Programa
que foi divulgado para a análise crítica dos eleitores e é
assumido publicamente pela candidata. Isto faz toda a diferença em
relação aos outros candidatos.
Fica
difícil entender como candidatos ainda sem programas, em vez de
procurar declará-los à sociedade, jogam todo o seu tempo de
propaganda eleitoral na desconstrução das propostas de Marina.
A
afirmativa de Aécio é de que os brasileiros não precisam se
preocupar, pois seu programa “ficará pronto antes das eleições”.
Da mesma forma, com viva voz, vemos a Presidente dizer que “quem tá
no governo não precisa dessas coisas”.
Na
verdade, serve melhor aos interesses de Aécio não se expor
programaticamente. Vende-se como o “mais competente” sem, na
verdade, dizer exatamente para fazer o que. Já o documento de Dilma,
até este momento não foi ainda oficializado e, ao que parece, não
o será. Segundo vários analistas políticos, procura-se com isso
evitar o “cabo de guerra entre o que pensa o governo e o que pensa
o PT” evitando o “fogo amigo”.
Enquanto
isso, os “sem programas” somam seus interesses e preferem apostar
na desconstrução de Marina, a candidata com menor rejeição e,
portanto, mais viável para bater o lula-petismo no segundo turno.
São ataques raivosos e mentirosos contra a candidata do PSB. Sobre
esse tipo de comportamento, é bom lembrar que Dilma deu
a entender, já em 2013, que é “aceitável fazer o diabo na hora
da eleição”.
Orientados
pelo marketing sofisticado, pago a ouro, usam produções
hollywoodianas e aproveitam a desigualdade de tempo de TV para
aplicar a máxima de Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler, de
que “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Querem
transformar Marina em representante da “elite branca de olhos azuis
escudeira do capitalismo paulista e dos bancos”, como se não
tivesse sido o próprio lula-petismo que transformou o Brasil no
paraíso dos amigos escolhidos da elite e dos banqueiros.
Enquanto
isso a campanha, comandada por marqueteiros, amesquinha-se e vira um
imenso trololó, onde não se discute, de maneira consistente, o
futuro do Brasil. Em vez de mostrar os diferentes programas, passa a
ser a abertura de sacos de bondades e a distribuição destas,
meticulosamente estudada, como se faz com inocentes crianças nas
festas de São Cosme e Damião.
Fausto
Matto Grosso - Engenheiro, professor da UFMS
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