MARINA – TEMPORAL OU CHUVISCO
Frederico
Valente* e Fausto Matto Grosso**
Será
mesmo forte a ventania Marina Silva? Analistas mais afoitos já dão
como certa a eleição dela. Realmente, algumas ondas são
incontroláveis, vide Collor em 89, Zeca do PT 98 e o Bernal em 2012.
Começam a aparecer pessoas que a rejeitavam, mas em função das
novas circunstancias estão revendo posições. A própria Marina
ajuda, se colocando de forma diferente, mais paciente e pragmática,
sem deixar de ser programática como ela está sempre reafirmando.
Particularmente acho que esse cenário tem grande probabilidade de
acontecer e cabe ser analisado.
Confirmado
o temporal, o que passa a preocupar é a capacidade de Marina para
liderar o jogo político e ao mesmo tempo efetivar as principais
mudanças que precisam ser feitas para o Brasil voltar a trilhar os
caminhos do desenvolvimento, iniciado por FHC, continuado por Lula e
paralisado por Dilma.
Estamos
vivendo aquela sensação de que o Brasil até melhorou (mesmo nos
momentos de turbulência internacional), mas está caminhando para a
estagnação (agora num ambiente de recuperação econômica mundo
afora). Essa sensação indica que pode avançar muito mais se houver
uma troca geral do comando político que a tempos vem mandando no
país e que se esgotou por si só.
Nesse
caso volto ao passado recente para uma nova comparação histórica.
Itamar Franco foi alçado à presidência com essas mesmas dúvidas,
talvez até maiores, pois participava de um projeto que qualquer
pessoa mais bem informada sabia o que viria com o homem que “combatia
os marajás”.
O
acidente que vitimou o Eduardo Campos junto com a eleição de Marina
Silva, oferece ao Brasil uma nova oportunidade histórica à
semelhança da que foi dada com o impeachment de Collor. Trata-se da
possibilidade real da formação de um governo de coalisão, com a
participação das forças políticas mais responsáveis do País.
Marina
e sua Rede, o PSB e o PPS, formam um tripé que vem mostrando
organização, modernidade, e coesão, amplamente demonstrados nesse
momento difícil. Todo processo vivido pela coligação, tanto na
postura em relação à morte de seu líder maior, como na sua
substituição, tem sido coerente e competente. A família Campos deu
o tom através de declarações sensatas do irmão de Eduardo, e de
sua esposa, que poderiam aproveitar o clima emocional e
oportunisticamente, postular o lugar dele, ou mesmo de vice. Outro
ponto forte deles é a proposição de uma “Nova Política” para
o Brasil, conteúdo das falas de Eduardo Campos e Marina Silva, e que
é o anseio maior da população brasileira, amplamente demonstrado
nas manifestações de junho de 2013.
Para
isso a nova presidente do Brasil terá que demonstrar capacidade e
disposição para negociar com os adversários e com os diferentes
setores da oposição e vai precisar de grande competência para
convencimento da sociedade a respeito das reformas econômicas e
sociais. Em princípio parece uma competência que Marina sozinha não
tem e nem Itamar tinha. Em uma coalizão bem articulada Marina
poderia dispor do apoio necessário para tanto e enfrentaria uma
oposição menos radical facilitando a governabilidade.
Por
outro lado existe a preocupação em relação ao que a Marina
ambientalista pensa sobre o setor rural. Sobre isso seu vice Beto
Albuquerque já começou a trabalhar. Em entrevista ao ser lançado
para o cargo disse "Acho que tem muita gente que tem preconceito
contra a Marina, talvez porque seja uma mulher, talvez porque seja
uma mulher negra, mas sem ouvi-la. Tem muita gente que ouve os outros
falarem da Marina e acha que o que o outro diz sobre a Marina é mais
importante do que ouvi-la. Quem ouvir a Marina na campanha vai ver
que há muitos preconceitos absolutamente despropositados". Ela
já disse também que cumpre o programa proposto pelo PSB.
O
momento e as circunstâncias são propícios a um governo de coalizão
e esse talvez venha a ser o principal legado construído e deixado
por Eduardo Campos com a formação da terceira via. Mas Marina terá
que entender e tratar cuidadosamente disso ao longo de toda a
campanha eleitoral, pois pequenos deslizes podem azedar o clima e por
tudo a perder.
Não
vai ser tarefa fácil administrar tudo isso, o PT mesmo vai
tratorá-la tão logo se confirme seu crescimento, mas o PSDB talvez
não o faça, pelo menos foi isso que FHC sugeriu. Vamos acompanhar
os acontecimentos.
*Engenheiro,
foi Secretário Nacional de Saneamento
**Engenheiro
e professor aposentado da UFMS
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