DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
Muito
já se falou nos meios de comunicação sobre a irresponsabilidade
coletiva que está por trás da catástrofe do Rio de Janeiro. Desde
as destinações politiqueiras e das mentiras quantitativas sobre as
verbas de prevenção, da previsibilidade de tais eventos, do
descuido com o uso do solo, da ligação entre pobreza e ocupações
de áreas de riscos, da comparação entre os impactos de eventos
dessa natureza em países mais responsáveis e na Bangladesh
brasileira, entre outras coisas. Imaginem como seria a situação se
nosso país tivesse terremotos, vulcões e furacões. Por isso dizem
que "Deus é brasileiro".
Além
dessa realidade vivida no cotidiano, a ficção científica, em
livros e filmes tem sinalizado com alguns alertas. A disputa
fratricida por abrigos para fugir do sol cancerígeno, o congelamento
de grandes regiões do planeta, epidemias de cegueira, a inundação
total do planeta pelos mares e a luta de vida ou morte por água
potável. Para o bem ou para o mal - de Leonardo da Vince, passando
por Julio Verne, até os pesquisadores da NASA que estão montando o
projeto da primeira colônia humana em Marte - a ficção, muitas
vezes, costuma virar presente.
Até
que ponto e com que meios podem ser conciliados "desenvolvimento"
e meio ambiente. Essa é uma das mais importantes questões da pauta
planetária na atualidade.
O
conceito de desenvolvimento possui raiz econômica e coloca o homem
no centro do Universo, uns mais do que os outros. O homem é o fim e
a natureza é o meio. Aqueles que controlam os cordéis da economia
produtiva repassam ideologicamente esse valor. Por outro lado, o
conceito de sustentabilidade tem raiz ecológica. A natureza é o
centro do Universo. Esse é o campo do movimento preservacionista.
É
inegável que - dentro de um determinado estilo de desenvolvimento -
existe uma contradição inconciliável entre crescimento econômico
e conservação ambiental. Não temos como fugir disso. Se
aumentarmos as taxas de desenvolvimento econômico, diminuiremos a
qualidade ambiental. Se quisermos melhorar a qualidade ambiental
teremos que diminuir as taxas de desenvolvimento econômico. O dilema
é ainda maior porque temos o desafio, de incorporar milhões de
excluídos aos benefícios mínimos da civilização.
O
grande nó a desatar é a criação de viabilidade política para uma
mudança do estilo de desenvolvimento. Para sistematizar a idéia,
temos que usar aquela expressão odiada pelos beneficiários do
status quo, "mudar o paradigma", mudar o estilo de
desenvolvimento.
Em
um novo estilo a ser buscado, poderemos aumentar o nível de
desenvolvimento da economia sem impor uma maior fragilização ao
meio ambiente. Podemos fazer isso também recuperando o meio ambiente
dos males causados pelo desenvolvimento predatório. A ferramenta
adequada é óbvia: ciência, tecnologia e inovação. Por isso a
necessidade de modificar a escala dos ridículos investimentos na
educação - não me refiro à simples instrução, tampouco à
educação profissional para a economia de segunda classe - nos
centros de pesquisa, nas Universidades, e também na pesquisa do
setor privado.
É
preciso também mudanças profundas no padrão de consumo. Não
podemos conviver com o uso irresponsável da água, com o desperdício
de energia, de matéria prima e de alimentos, com a subestimação da
importância do transporte coletivo, com a produção crescente de
lixo. O desfio neste caso é racionalizar, reaproveitar,
miniaturizar, transitar para uma matriz energética mais limpa.
É
por conta da amplitude dessa mudança que a causa ambiental tem que
ser global e local, ideologicamente planetária e exige a ação
direta responsável de cada um de nós, onde estivermos. Daí o
desafio de construirmos um novo paradigma. Nessa travessia, ao que
parece, ainda teremos que chorar por muitos mortos.
Autor:
Fausto Matto Grosso
Engenheiro
Civil, professor da UFMS
E-mail:
Faustomt@terra.com.br
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Publicado
no Correio do Estado 20.01.2011
Fundação
Astrojildo Pereira
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