FATALISMO E SUSTENTABILIDADE
07.01.2011
Os
anos parecem se repetir. Invariavelmente temos as chuvas, as
enchentes, a destruição da pavimentação, as interrupções de
trânsito, as quedas das árvores, as perdas nas obras públicas em
execução, as epidemias de dengue, para ficar apenas naqueles
eventos rotineiros que são mais sentidos na nossa cidade. Parece um
inevitável castigo dos céus.
Uma
das coisas que distingue os homens dos animais é a capacidade de
antecipar eventos, de construir instrumentos mitigadores de
catástrofes, de elaborar planos de contingências e, principalmente,
de planejar cidades e sociedades mais sustentáveis.
É
lógico que acidentes naturais e calamidades, podem acontecer em
qualquer lugar, em cidades prósperas ou pobres, grande ou pequenas,
bem ou mal administradas, mas comparada com os grandes centros
urbanos, ou localidades assentadas em locais de terrenos frágeis,
ainda somos uma cidade viável, privilegiada. Eis nossa grande
responsabilidade como cidadãos, técnicos e governantes.
Acredito
que a construção de novos paradigmas de sustentabilidade da cidade
não seja ainda, uma idéia com forte presença entre nós. Ainda
não incorporamos, coletivamente, essa cultura.
Por
isso continuamos impermeabilizando a cidade, construindo onde não se
deve, adensando-a ao sabor da especulação imobiliária, bloqueando
a cidade com enormes condomínios fechados, ampliando vazios urbanos,
construindo asfalto no meio do mato, tendo como conseqüência
imediata a expulsão das populações mais pobres para lugares mais
distantes.
No
transporte, a cidade piora dia a dia. Os congestionamentos, antes
coisas dos grandes centros, já atormentam a vida do cidadão.
Estacionar tornou-se um grande problema para o campo-grandense,
mostrando a crescente inviabilidade da solução pela via do
transporte individual. Apesar de alguns avanços ao nível da
integração do transporte público, a cidade ainda é,
fundamentalmente, pensada para o transporte individual.
Nosso
transporte de massa não tem confiabilidade nem qualidade. Isso
parece não estar nos planos dos nossos administradores. Exemplo
desastroso, a este respeito, é a transformação do antigo leito da
ferrovia, da noite para o dia, em mais uma alternativa para o
transporte individual.
Nesse
sentido, os grandes equipamentos concentradores de destinos, parecem
não merecerem tratamento especial. E o caso das universidades, dos
hospitais, do aeroporto, do Parque dos Poderes, entre outros.
Nosso
padrão de construções não é orientado para a sustentabilidade.
Nossas calçadas permanecem, não raro, apegadas ao modelo
tradicional impermeável. A água da chuva captada internamente nos
imóveis, apesar das amplas possibilidades do seu aproveitamento, tem
como destino a sarjeta e a enxurrada. Nosso padrão de arruamento,
amplo, do qual nos orgulhamos, mereceria soluções mais criativas
quanto à absorção das águas pluviais. O enfrentamento desses
problemas, impraticável de ser generalizado da noite para o dia,
poderia ser imposto às novas construções, até que, com o tempo,
fossem paulatinamente generalizadas.
O
conflito entre a arborização e a rede elétrica é permanente fonte
de problemas. É lógico que nossos técnicos, urbanistas,
engenheiros, tem condições de dar solução criativa para um
problema tão trivial. Estamos matando, sem a menor sensibilidade, as
nossas árvores centenárias que constituem um patrimônio cênico de
rara beleza, que constrói a nossa identidade, sempre divulgada pelos
nossos visitantes.
Não
existe solução simplista para esses inúmeros problemas. Trata-se
de promover mudanças culturais rumo á idéia da sustentabilidade.
Entretanto, tais problemas devem ser apontados e debatidos. As
soluções devem ser buscadas pela inteligência coletiva da
cidadania, dos técnicos e dos governantes. Não dá mais para ficar
esperando a repetição das tragédias e repetindo sempre mais do
mesmo.
Fausto
Matto Grosso
Engenheiro
e professor da UFMS
faustomt@terra.com.br
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