O MISTERIOSO DINHEIRO DE BRASILIA
O
PÇSC (Partido Çossiáu do Seu Creysson) está com tudo nestas
eleições. O Tiririca, também, está quase eleito deputado em São
Paulo. Assistir ao programa eleitoral de deputados federais e
senadores, chega a ser divertido, com todo o respeito, pelo besteirol
apresentado pelos candidatos. As exceções são poucas, talvez se
contem nos dedos de uma mão, se tanto.
O
discurso central desses “nossos representantes”, geralmente, é
de que vão trazer dinheiro para o Estado. Não sei se o motivo
dessas promessas é a ignorância política pura e simples, não
sabem para que serve um deputado, ou é, descaradamente, uma
confissão antecipada da velhacaria da política.
Aliás,
essa coisa de trazer dinheiro de Brasília, através de emendas
parlamentares ou tráfico de influência, é um assunto que não
deveria ser comentado na sala, em frente das crianças, muito menos
nos horários eleitorais onde os inocentes, mesmos aqueles de maior
idade, ainda estão acordados. Entretanto, esse tem sido o tema mais
recorrente na propaganda eleitoral. A prática da emenda parlamentar
tem sido um dos recantos mais escuros e mal-cheirosos da política.
É
necessário jogar luz nesse assunto. Falar o que muitos sabem, mas se
calam por conveniência ou leniência. Isso é importante até para
que políticos íntegros e bem intencionados, imagino que eles
existam, possam escapar desse lodaçal.
Os
parlamentares, na sua tarefa de fazer leis, deveriam interagir
fortemente com a Sociedade e cumprir o seu papel constitucional.
Entretanto, nos tempos atuais, a imensa maioria das leis é formulada
pelo Governo e o Congresso Nacional se transformou em mero cartório
para homologar a ditadura do Executivo.
Na
sua tarefa de acompanhar e fiscalizar o Executivo, deveria se dedicar
a avaliar o alcance finalístico dos programas e ações realizadas,
avaliar se os recursos foram distribuídos pelos critérios técnicos
previstos nos programas, de maneira transparente e republicana, ou ao
contrário, se serviu para politicagem barata, tão cara para o bolso
do contribuinte.
No
momento da análise da Lei Orçamentária, deveria cortar programas
de baixa efetividade, fortalecer aqueles que melhor atendem as
necessidades dos brasileiros, equilibrando, com a responsabilidade do
mandato popular, a distribuição dos recursos entre os diferentes
programas, funções, ministérios, Estados e Municípios. Ou seja,
tratando do projeto de orçamento nos seus delineamentos maiores, a
partir de uma visão de desenvolvimento nacional e de combate aos
desequilíbrios regionais. Não cabe nessa hora infiltrar a
“emendinha” clientelista e paroquial.
Infelizmente
não tem sido esse o caminho. A máxima da atividade parlamentar tem
sido a batalha pelas emendas parlamentares mediante as quais se
estabelece um jogo espúrio e imoral entre o Executivo e o
Legislativo. O início dessa pecaminosa relação é o momento da
elaboração do Orçamento. A emenda é, ao mesmo tempo, o
instrumento do parlamentar fazer política clientelista e o
instrumento de controle político exercido pelo Executivo sobre o
Legislativo
O
orçamento é apenas uma lei que autoriza o governo a gastar em
determinado programa ou ação, mas não lhe impõe a decisão de
implementá-lo. A proposição das emendas não tem caráter
imperativo, mas os parlamentares vão para os estados e municípios
para montar o jogo, com governadores, prefeitos e entidades. É o
famoso “me engana que eu gosto”. Anunciam aos quatro ventos que
estão trazendo dinheiro para o estado.
Depois
vem a realidade. Somente uma parcela ínfima das emendas
parlamentares é liberada, assim mesmo mediante chantagem mútua nos
momentos das votações decisivas para o Governo. É quando o
computador do Planalto pega fogo, selecionando quem pediu o quê, e
colocando para funcionar o famoso tabuleiro do franciscanismo do “é
dando que se recebe”, do “toma-lá dá-cá”, do “amor
remunerado”, seja lá o nome que se queira dar.
Assim
a ponte para Cabrobó, ou a ambulância para Nossa Senhora da Mata a
Dentro, são trocadas por votos sobre as questões de grande
interesse do Executivo. Pior, isso acaba valendo tanto para os
parlamentares da situação como para os da oposição de
conveniência. É o que nós sempre vemos, mas nem sempre entendemos.
Durante
a execução dessas emendas o escândalo é ainda maior. Elas têm
“donos” e, segundo a praxe, estes ficam com o direito de cobrar
“pedágio” para que esse dinheiro chegue até a obra aprovada.
Esse é o reino do baixo clero, a Sapucaí da política brasileira,
já exposta nos inúmeros escândalos do Congresso.
Por
isso tudo, deveria haver uma lição a ser ensinada desde a escola
primária até ao horário político, antecipando-se ao discurso
enganoso: não vote em parlamentar que diz que vai trazer dinheiro
para o estado. Isso faz mal para a saúde, para a educação, para a
agricultura, para a pecuária, para o desenvolvimento, para a
cidadania e para a crença na democracia.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Engenheiro,
professor da UFMS
faustomt@terra.com.br
Publicado no Correio do Estado em 11.09.2010
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