O MARCENEIRO, O VEREADOR E O LOUCO
Certa
feita, lá nos anos oitenta, quando eu era vereador do PCB, fui
procurado por um velho amigo marceneiro que me levou próximo ao
mercado municipal para mostrar as péssimas condições nas quais a
comunidade indígena comercializava a produção trazida das aldeias.
As
pessoas ficavam na calçada, junto com as mercadorias, os cães
vadios, as crianças sujas, os insetos repugnates e outros
desconfortos tais. Os sanitários eram os canteiros das árvores
do local.
Sensibilizado
pela situação caí em campo organizando a comunidade e fazendo
a articulação dela com a prefeitura. Como resultado disso foi
instalada uma "feirinha indígena" em uma praça pública
lindeira ao mercado municipal. As instalações ficaram bastante
razoáveis. Sanitários, Posto Policial, quiosques, bancadas,
instalações hidráulicas, etc
Ontem
o recebi de novo o velho amigo marceneiro. Veio consertar umas
portas. Encabulado, me confidenciou que o trabalho estava rareando e
as dificuldades financeiras estavam crescendo cada vez mais. A
cabeça, nessas circunstâncias, não andava nada tranquila, a ponto
de a familia recomendar-lhe uma ajuda psicológica.
Resistiu
quanto pode, até aceitar a consulta marcada pelo filho em um
psiquiatra nosso camarada de partido. O consultorio ficava exatamente
em frente da feirinha indígena.
Ficou
esperando a hora, na sacada, em companhia de um casal que por lá
também se encontrava.
Ouviu,
então, quando a mulher comentou, com o marido, sobre a
feirinha, elogiando a instalação. Não teve dúvida: "essa
idéia foi minha!" afirmou.
Foi
quando teve o dissabor de ver a mulher circulando o dedo indicador em
torno da orelha e piscando para o marido.
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