NOVO VERSUS VELHO
Começamos
a morrer no dia em que nascemos, diz o filósofo. Não se atravessa
o mesmo rio duas vezes afirma o outro. Embora o movimento e a
mudança façam parte do nosso cotidiano, muitas vezes só enxergamos
a permanência e a continuidade na realidade do dia a dia. Às vezes
acontece ainda pior, temos vontade de voltar ao que já passou, como
se essa máquina do tempo já tivesse sido inventada.
O
mundo em que vivemos tem sido marcado pelo ritmo alucinante da
mudança, mas nem sempre isso significa melhoria para a humanidade.
Esse novo vai ser configurado pela luta entre as forças que disputam
a hegemonia no processo de mudança.
A
Revolução Industrial, introduzindo as máquinas na produção e
produziu a modernidade do Século XX, mas também as suas injustiças.
As máquinas eram meras extensões motoras dos braços do homem.
Apesar de ser uma coisa simples, essa mudança afirmou o capitalismo
como sistema dominante, mas na disputa sobre o futuro, fez nascer a
idéia do socialismo e o sistema socialista mundial que chegou a
dividir quase ao meio o mundo existente . Surgiram, com os perfís
atuais, os Estados Nacionais, os Partidos e os Sindicatos.
A
Revolução Científico-Tecnológica, ao intensificar o uso produtivo
do conhecimento e da informação, criando os novos materiais, o
computador, a robótica, os supersensores, levou à produção uma
extensão do cérebro humano. O impacto disso no mundo está
redesenhando todos os paradigmas anteriores.
Para
se ter uma medida dessa realidade, segundo previsões da Conferência
de Atlanta sobre o Futuro do Mundo, 1995, no Japão no ano 2020,
apenas 5% da população terá lugar no mercado de trabalho, 74% do
PIB daquele país provirá de bens e serviços que não tinham sido
ainda inventados e o estoque de conhecimento humano duplicaria a cada
83 dias.
Nesse
contexto novo, os velhos métodos, as receitas tradicionais já não
funcionam mais como antes e a perplexidade toma conta das mentes. Os
Estados nacionais perdem significância perante os blocos regionais,
começam a serem formados os mecanismos de uma nova governança
mundial. Assim como o mercado se interconecta instantaneamente, surge
o embrião de uma nova sociedade civil mundial. Como parte desse
mesmo processo fortalece-se o local como espaço de exercício da
cidadania e da democracia. Pelas redes de interesses se articula uma
verdadeira cidadania global e local que coloca no horizonte o fim do
conceito de estrangeiro.
Vivemos
uma verdadeira crise de civilização. No linguajar do filósofo ,
mais uma vez o que é sólido está se desmanchando no ar. Aí
convém chamar um pensador italiano que enxergava a sua época a
partir da consciência da univesalidade da regra do movimento.
Gramsci ensinava: crise é aquela situação que se instala quando o
que é velho já morreu e o que é novo ainda não nasceu.
Nesse
contexto, ainda convivem os dois, muitas vezes, cada vez menos, é o
velho que lidera e manda. Mas o novo está lá, solerte, buscando o
seu espaço de afirmação. Mais adiante será o novo que firmará,
inexoravelmente, a sua presença. Apesar da afirmação cada vez
maior de valores humanos, conquista do processo civilizatório,
afirma-se a disputa pela hegemonia no novo mundo. Cada lado tem seus
intelectuais, seus seguidores, e seus militantes.
A
direita mundial soube entender esse processo melhor do que a
esquerda. Por isso liderou a saída da crise afirmando novos
paradigmas igualmente excludentes e opressores. Sua ideologia era o
pensamento único do neoliberalismo.
A
esquerda jogou na defensiva, acabou exercendo um papel conservador.
Não percebeu as possibilidades novas, perdeu a inciativa e perdeu a
disputa. Muitos mudaram o discurso por oportunismo, não porque o
mundo mudou. Na perplexidade e na crise, muitos simplesmente se
transformaram em meros síndicos conservadores da massa falida do
velho. O desafio que se tem pela frente é, de novo, ela ser
portadora de uma utopia transformadora, razão da sua existência.
Para isso tem que recuperar a sua liderança “intelectual” e
moral, reinventar-se.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Engenheiro
Civil, professor da UFMS
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