AS CAUSAS DA NOSSA VITÓRIA
A
história política de Mato Grosso (do Sul) nos últimos 35 anos foi
a historia do pedrismo. Enquanto a anti-pedrismo tradicional
produziu ao longo do tempo diferentes líderes - Fragelli, Canale,
Marcelo Miranda, Wilson Martins, Ramez Tebet e Lúdio Coelho - o
elemento permanente, nesse período, foi Pedro Pedrossian.
Compreender
a história política de Mato Grosso do Sul demanda decifrar as
razões dessa liderança e o seu significado como expressão de
hegemonia, tarefa que está longe de estar realizada.
Eleito
Governador pela primeira vez em 1965, pelo PSD, representou uma
candidatura de oposição ao regime ditatorial em implantação. Foi
a memorável campanha do “tostão contra o milhão” na qual
derrotou Lúdio Coelho da UDN. Candidato anti-oligárquico recebeu o
apoio das forças democráticas e da esquerda, que acabaram sendo
vitimadas pelas prisões que antecederam o pleito.
Foram
seus companheiros de vitória os governadores Negrão de Lima (GB) e
Israel Pinheiro (MG). Essa derrota inesperada do regime foi
apontada, à época, como um dos motivos da extinção dos antigos
partidos.
Toma
posse chantageado pela ditadura em função de denúncias a respeito
da sua administração da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.
Protegido por Filinto Muller, salva-se e adere ao regime militar.
Pedrossian
foi o intrumento, em Mato Grosso (do Sul), do projeto de modernização
conservadora realizado a partir de 64. Paradoxalmente, cumpriu um
papel que a oligarquia sul-matogrossense pensava estar reservado para
sí. Por isso talvez nunca tenha sido perdoado completamente.
Realizando
grandes investimentos - transportes, energia, comunicações,
universidades - sua primeira administração cristalizou em
Pedrossian a marca de “tocador de obras”, de governante
realizador, embora autoritário e de conduta ética questionável.
Sendo
a expressão política do bloco hegemônico constituído pelos
beneficiários mais diretos do “milagre brasileiro” e da
modernização conservadora – empreiteiras de obras públicos,
desbravadores da fronteira agrícola, burguesia comercial,
pecuaristas tradicionais – Pedrossian fundou o seu reinado para,
até a entrada do século XXI, não sair de cena.
Quando
o modelo econômico do regime militar entra em crise o quadro começa
a alterar-se. A crise econômica sobreposta à nova dinâmica social
produzida pela rápida urbanização, ao crescimento das camadas
médias e às dificuldades de financiamento da produção agrícola,
foi gerando a base social para uma contra-hegemonia composta pelas
forças que se articulam no PMDB e entorno de sua mais expressiva
liderança Wilson Martins. Este projeto, inicialmente vinculado à
luta pela democratização, cresce e começa a realização no Estado
uma alternância (direta ou indiretamente) entre os dois projetos em
disputa.
A
cada subida de Pedrossian, a política de grandes obras e de grandes
dívidas. A serem terminadas, pagas e denunciadas pelo anti-pedrismo
“udenista”, impotente e incapaz de produzir um projeto
alternativo ao da modernização conservadora realizada pelo seu
antecessor. Cabia a este último apenas a denúncia ética, a sina
de pagar as contas e terminar-lhe as obras, ou seja, realizar o
projeto de seu antecessor.
Nessa
medida, pedrismo e anti-pedrismo tradicional não passavam de duas
faces da mesma moeda. Um não existiria sem o outro.
O
último governo de Wilson Martins construiu a base para a ruptura,
por esgotamento, desse processo de alternância. Paralisia
administrativa, desestruturação da máquina pública, generalizada
falta de vontade política, crise fiscal e a perda completa do que
lhe restava, o discurso ético.
Quando
se igualaram na questão da moralidade pública, o pedrismo e
wilsismo (anti-pedrismo tradiconal) o círculo da disputa oligáquica
rompeu-se. Instalou-se a crise de hegemonia. O candidado apoiado
pelo governo, Ricardo Bacha, e o próprio Pedrossian foram duramente
surpreendidos no primeiro turno pelos bons resultados da Frente Muda
MS, liderada pelo governador Zeca do PT e construídos por uma
persistente política de acumulação de força eleitoral.
Dadas
as disputas históricas, não restou a Pedrossian outra alternativa a
não ser o apoio tático, por sinal decisivo, para a eleição do
primeiro governo hegemonizado pela esquerda em Mato Grosso do Sul.
A
conjugação conjuntural de uma chapa com composição ampla (Zeca
com uma boa base popular, inclusive reforçada pela recente disputa
municipal, Kohl com a respeitabilidade de bem sucedido empresário
rural e urbano e Carmelino a grande figura que deu o tom do discurso
ético) com a crise econômica (especialmente na agricultura) e o
desemprego, somado ao apoio tático do pedrismo produziram a vitória
do Movimento Muda MS.
Fruto
do alinhamento de uma séria de fatores favoráveis, nossa vitória
não expressa uma real acumulação de forças pelo nosso projeto.
Prova disso foi a expressiva vitória, em nosso Estado, de Fernando
Henrique e a composição amplamente minoritária das nossas
representações parlamentares no Congresso e na Assembléia
Legislativa.
Se
de um lado soubemos, com ousadia, aproveitar a crise de hegemonia
das forças políticas tradicionais, encontramo-nos hoje diante do
desafio de consolidar um novo bloco político hegemônico.
Para
isso precisamos um projeto claro, transformador, capaz de representar
aspirações amplas da sociedade sul-mato-grossense. Com as
responsabilidades e as possibilidades do Governo, começar a dar-lhe
vida, produzindo resultados e consagrando marcas que embasem o
reconhecimento e a cumplicidade dos atores sociais e políticos que
tenham a ver com o nosso projeto e que possam dar-lhe
sustentabilidade.
Construir
uma nova política para embasar um novo projeto hegemônico duradouro
é o desafio que se coloca hoje para as forças do Movimento Muda MS.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Secretário
de Planejamento e de Ciência e Tecnologia
Membro
dos Diretórios Nacional e Regional do PPS
Artigo
produzido para seminário da Fundação Perseu Abramo em 02/08/99
23:01:58
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