segunda-feira, 29 de junho de 1998

A CRISE DO INTERIOR

A CRISE DO INTERIOR



Viajar pelo interior de Mato Grosso do Sul já foi muito pior e já foi muito melhor. Inegavelmente, nos últimos 30 anos, nossas cidades se estruturaram razoavelmente. Somando os tempos de bonanças com os tempos de crises, algo avançou.

O traçado urbano foi melhorado, melhorou a comunicação telefônica, algumas ostentam até modernos centros esportivos para o lazer das populações. As pracinhas tradicionais receberam melhor tratamento. Aumentou-se a rede escolar e hospitalar e até o ensino superior atingiu alguns pólos regionais. Grande parte das estradas, embora mal conservadas, são asfaltadas, o mesmo se dando com o centro das cidades. Já se pode hospedar em hotéis razoáveis, comer em restaurantes satisfatórios, isso considerando os padrões reinantes nas antigas "pensões" de poucas décadas atrás.

A ocupação da fronteira agrícola pelos gaúchos, paranaenses e catarinenses modificou a nossa estrutura econômica, impactando positivamente a correlação de força na política estadual. O fortalecimento do MDB/PMDB, partidos então de oposição, representou esse avanço. Cidades novas surgiram em regiões tradicionalmente estagnadas.

Após a Constituinte de 88, as arrecadações das Prefeituras aumentaram sensivelmente. A redistribuição tributária caminhou no sentido do fortalecimento dos municípios. Naqueles anos os prefeitos eram os ao “grandes eleitores”.

Hoje entretanto os municípios sul-mato-grossenses estão em profunda crise. A agricultura perdeu produção e área plantada. A pecuária extensiva debate-se com a sua baixa produtividade relativa. Agências bancárias, estabelecimentos comerciais, oficinas, agências revendedoras de automóveis e máquinas agrícolas cerraram suas portas. O Estado perde população, nossos jovens são expulsos das cidades do interior pela falta de perspectiva de trabalho. O interior encontra-se abandonado e empobrecido.

Três vetores conduzem a essa situação: a concentração tributária praticada pelo governo FHC, a política agrícola e a falta de política regional de desenvolvimento.

A aprovação do Fundo de Estabilização Fiscal, inclusive com o apoio da dócil bancada federal de Mato Grosso do Sul, retirou, compulsoriamente, 30% dos recursos que deveriam ser destinados aos municípios. A vida dos Prefeitos tornou-se um inferno, é só lembrar a deplorável condições nas quais terminaram as últimas administrações municipais, com suas dívidas imensas, impagáveis, e o funcionalismo público sublevado em todas as cidades. As Prefeituras encontram-se hoje inviabilizas, impotentes diante da grande demanda das comunidades por obras e serviços essenciais.

A vida nas cidades do interior foi também duramente afetada pela política econômica do governo FHC. Nossa economia interiorana, baseada na pecuária e na agricultura, deteriora-se visivelmente..

A baixa produtividade do nosso gado, comparada com a dos outros países do Mercosul, principalmente com Argentina e Uruguai, associada à elevação dos custos dos insumos e financiamentos, levou a uma completa falta de perspectiva desse setor.

A política de juros altos tornou impraticável a atividade agrícola, transformando o campo sul -mato-grossense em terra nua, à espera da erosão e das pragas. Começa a tornar-se comum encontrar proprietários rurais almejando a invasão de suas desvalorizadas terras para poderem vendê-las ao Governo.

Se os dois fatores anteriores independiam, em boa medida, da política estadual, o mesmo não se pode dizer da omissão do governo estadual com relação à sua responsabilidade de propor uma política regional de desenvolvimento.

Mato Grosso do Sul há muito está sem rumo. Nosso crescimento, no geral, foi obra da sociedade sul mato-grossense, quase sempre atrapalhada pela ineficácia dos governos. Nosso governantes raramente pensaram a longo prazo, nunca conseguiram ser estadistas, construtores de consensos estratégicos junto com a sociedade.

Viajando hoje pelo interior de Mato Grosso do Sul essa verdade fica transparente. O clamor que ressoa do povo aponta a necessidade de um nova política, democrática, ética, competente e desenvolvimentista


FAUSTO MATTO GROSSO

Engenheiro Civil e Professor da UFMS. Presidente do PPS/MS - 29/06/98

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