A CRISE DO INTERIOR
Viajar pelo interior de Mato
Grosso do Sul já foi muito pior e já foi muito melhor.
Inegavelmente, nos últimos 30 anos, nossas cidades se estruturaram
razoavelmente. Somando os tempos de bonanças com os tempos de
crises, algo avançou.
O traçado urbano foi
melhorado, melhorou a comunicação telefônica, algumas ostentam até
modernos centros esportivos para o lazer das populações. As
pracinhas tradicionais receberam melhor tratamento. Aumentou-se a
rede escolar e hospitalar e até o ensino superior atingiu alguns
pólos regionais. Grande parte das estradas, embora mal conservadas,
são asfaltadas, o mesmo se dando com o centro das cidades. Já se
pode hospedar em hotéis razoáveis, comer em restaurantes
satisfatórios, isso considerando os padrões reinantes nas antigas
"pensões" de poucas décadas atrás.
A ocupação da fronteira
agrícola pelos gaúchos, paranaenses e catarinenses modificou a
nossa estrutura econômica, impactando positivamente a correlação
de força na política estadual. O fortalecimento do MDB/PMDB,
partidos então de oposição, representou esse avanço. Cidades
novas surgiram em regiões tradicionalmente estagnadas.
Após a Constituinte de 88, as
arrecadações das Prefeituras aumentaram sensivelmente. A
redistribuição tributária caminhou no sentido do fortalecimento
dos municípios. Naqueles anos os prefeitos eram os ao “grandes
eleitores”.
Hoje entretanto os municípios
sul-mato-grossenses estão em profunda crise. A agricultura perdeu
produção e área plantada. A pecuária extensiva debate-se com a
sua baixa produtividade relativa. Agências bancárias,
estabelecimentos comerciais, oficinas, agências revendedoras de
automóveis e máquinas agrícolas cerraram suas portas. O Estado
perde população, nossos jovens são expulsos das cidades do
interior pela falta de perspectiva de trabalho. O interior
encontra-se abandonado e empobrecido.
Três vetores conduzem a essa
situação: a concentração tributária praticada pelo governo FHC,
a política agrícola e a falta de política regional de
desenvolvimento.
A aprovação do Fundo de
Estabilização Fiscal, inclusive com o apoio da dócil bancada
federal de Mato Grosso do Sul, retirou, compulsoriamente, 30% dos
recursos que deveriam ser destinados aos municípios. A vida dos
Prefeitos tornou-se um inferno, é só lembrar a deplorável
condições nas quais terminaram as últimas administrações
municipais, com suas dívidas imensas, impagáveis, e o funcionalismo
público sublevado em todas as cidades. As Prefeituras encontram-se
hoje inviabilizas, impotentes diante da grande demanda das
comunidades por obras e serviços essenciais.
A vida nas cidades do interior
foi também duramente afetada pela política econômica do governo
FHC. Nossa economia interiorana, baseada na pecuária e na
agricultura, deteriora-se visivelmente..
A baixa produtividade do nosso
gado, comparada com a dos outros países do Mercosul, principalmente
com Argentina e Uruguai, associada à elevação dos custos dos
insumos e financiamentos, levou a uma completa falta de perspectiva
desse setor.
A política de juros altos
tornou impraticável a atividade agrícola, transformando o campo sul
-mato-grossense em terra nua, à espera da erosão e das pragas.
Começa a tornar-se comum encontrar proprietários rurais almejando a
invasão de suas desvalorizadas terras para poderem vendê-las ao
Governo.
Se os dois fatores anteriores
independiam, em boa medida, da política estadual, o mesmo não se
pode dizer da omissão do governo estadual com relação à sua
responsabilidade de propor uma política regional de desenvolvimento.
Mato Grosso do Sul há muito
está sem rumo. Nosso crescimento, no geral, foi obra da sociedade
sul mato-grossense, quase sempre atrapalhada pela ineficácia dos
governos. Nosso governantes raramente pensaram a longo prazo, nunca
conseguiram ser estadistas, construtores de consensos estratégicos
junto com a sociedade.
Viajando hoje pelo interior de
Mato Grosso do Sul essa verdade fica transparente. O clamor que
ressoa do povo aponta a necessidade de um nova política,
democrática, ética, competente e desenvolvimentista
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro Civil e Professor
da UFMS. Presidente do PPS/MS - 29/06/98
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