ESQUERDA E REFORMAS
O
processo eleitoral em curso propõe um desafio à cultura política
da esquerda. Para que ela se capacite a respondê-lo é necessário
que, inicialmente, entenda o recado das urnas de 1994. A eleição
de FHC foi a vitória de um projeto de reformas contra uma esquerda
tímida e acuada que, envolvida com a sua crise ideológica,
mostrava-se incapaz de livrar-se da visão estatista e
corporativista.
O
Estado brasileiro, tal com se encontrava, era incapaz de ser indutor
de um novo ciclo de desenvolvimento para o País. Moldado pela
classes dominantes para o ciclo de substituições de importações,
tornara-se anacrônico, privatizado pelas elites e pelas
corporações, perdera a sua capacidade de financiamento, e era
fonte permanente de inflação que atingia com toda a sua carga
pesada os assalariados de baixa renda.
O
projeto FHC correspondeu a uma iniciativa dessas mesmas classes
dominantes de reformar o Estado segundo seus propósitos e
interesse, vinculada aos propósitos dos centros financeiros
mundiais. O neo-liberalismo era a receita por elas encomendada e
passada ao novo presidente.
Manter-se
imóvel ou na defensiva do status quo era derrota certa. A esquerda
mostrou-se conservadora e entregou a bandeira das reformas para a
direita, quando até a cultura do futebol já nos ensinava que
seleção que não faz gol, leva.
Faltou
à esquerda um projeto de reformas, formulado a partir de seus
compromissos transformadores, éticos e libertários, que pudesse ser
confrontado com o projeto de centro-direita e ajudasse a forjar a
base de uma aliança de centro esquerda.
Realizar
esse desafio é, na atualidade, o papel da candidatura Ciro Gomes.
No
plano parlamentar urge também uma articulação da esquerda
democrática em favor das reformas. Nesse sentido a experiência da
Constituinte de 88 trouxe um importante subsídio de como se
viabiliza tal desafio. Também minoritária, a esquerda, naquela
ocasião foi capaz de romper o isolamento e, amparada na mobilização
popular, forjar as aliança táticas que permitiram o isolamento do
Centrão e a produção de uma Constituição avançada. Partiu p'ra
cima e fez gol.
Já
no presente processo eleitoral a esquerda deve pautar a luta pelas
reformas. Isso permitirá legitimação nas urnas dessa proposta e
a eleição de um base parlamentar suficientemente forte para
realizá-la.
Lideranças
como Roberto Freire, José Genoíno, Eduardo Jorge e tantas outras de
igual naipe também existentes no PSDB, PMDB e PDT poderão ser
aglutinadoras de uma frente parlamentar de centro-esquerda, capaz de
formular, no parlamento, um projeto de reformas para desprivatizar o
Estado, torná-lo indutor de um novo ciclo de desenvolvimento, e
fazê-lo competente para enfrentar a exclusão social e a crise ética
da contemporaneidade.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Engenheiro
civil e professor da UFMS
Presidente
do PPS/MS
04/06/98
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