terça-feira, 11 de março de 1997

MST: QUEM NÃO GOSTA LEVANTA A MÃO...

... e exija que o Governo faça a Reforma Agrária, senão vai ter que continuar assistindo o MST fazer a sua.
Os movimento sociais, gostemos ou não deles, são frutos da realidade social do País. É impossível criá-los ou mantê-los artificialmente se não existe tal correspondência, principalmente um movimento com a amplitude adquirida pelo MST.
Também, de nada adiantará o Governo cumprir sua meta de assentar 200 mil famílias se o problema tem a dimensão de 12 milhões de trabalhadores rurais sem terra.
Um governo que se pretenda social-democrata deveria saudar a existência do MST, mesmo com todos os seus problemas. O professor Celso Furtado tem apontado a grande possibilidade que pode ser representada pela volta e fixação ao campo dos milhões de excluídos da “modernização”.
O Brasil está sendo um caso único no mundo onde pode existir, a curto prazo, uma saída não traumática para a crise do desemprego estrutural.
E neste caso não adianta a hipocrisia de cobrar “vocação rural” desses trabalhadores, que, aliás, a têm mais do que o Presidente da República, ele próprio um intelectual proprietário rural. A sociedade pós-moderna, cuja implantação está sendo acelerada pela globalização, terá mais dia, menos dia, conforme apontam alguns estudiosos, que substituir o paradigma baseado no emprego pelo paradigma baseado na ocupação.
Neste caso, mesmo a agricultura familiar de subsistência é preferível, aos programas de renda mínima que a sociedade terá que providenciar sob pena de sucumbir diante da explosão da bomba social. A não ser que, sendo impossível esconder debaixo do tapete os excluídos da globalização, se opte pela “solução final” hitlerista de extermínio em massa dos miseráveis.
Durante a última semana vários setores da mídia tem procurado infundir, na opinião pública a desconfiança em relação ao MST. No tempo da Guerra Fria o movimento seria apontado como beneficiário do “ouro de Moscou”. Impossível faze-lo hoje, seu inimigos buscam desesperadamente desmoralizá-lo pela origem dos seus 20 milhões arrecadados no ano passado, principalmente quanto aos 4 milhões de reais provenientes de doações de trabalhadores beneficiários de financiamentos oficiais.
Seria mais justo que se preocupassem com os caixas já abarrotados para as próximas campanhas eleitorais, com origem duvidosa, onde tal valor, no geral é gasto para eleger um simples deputado federal.
Embora seja difícil, é bom não perder a ordem de grandeza dos números. O Estado de Santa Catarina perdeu, segundo a CPI dos precatórios, 86 milhões com o deságio dos títulos e 33,2 milhões com comissões de intermediários, Alagoas perdeu 69 e 14 milhões respectivamente. Só a Distribuidora Negocial faturou 168 milhões nas suas operações. Diante disso, o que são 4 milhões? Apenas o valor da última casa de praia do banqueiro Júlio Bozzano, presidente do Banco Bozzano & Simonsen, uma das principais empresas operadoras das recentes privatizações feitas pelo Governo Federal.
Mas voltando ao MST. Não posso dizer que gosto dele. Da visão fundamentalista e da subestimação da importância da democracia, que podem ser filtradas nas manifestações de algumas de suas mais expressivas lideranças. Politicamente trabalha com métodos que assustam a qualquer mentalidade arejada de esquerda, nesse sentido, sendo a contraface perfeita da UDR. Acho inclusive que, não tendo cuidado, corre um grande risco de deixar de ser um movimento social legítimo e passar a ser um partido político. Reflete , entretanto, a barbárie, a violência e o atraso das relações sociais no campo e a dimensão do problema da exclusão social do País. Por isso, exatamente temos que respeitá-lo e valorizar a sua luta e representatividade.

FAUSTO MATTO GROSSO

Presidente do PPS/MS

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