TRABALHO GARANTIDO, SALÁRIO SUFICIENTE. A UTOPIA FEITA REALIDADE
(Depoimento
de Viagem VI – Jornal da Cidade - 04/03/84)
“...não
haverá homem ou mulher, em condições de trabalhar ,que não tenha
oportunidade de obter um emprego com o qual possa contribuir aos fins
da sociedade e á satisfação de suas próprias necessidades” –
Constituição Cubana
Em
um dos nossos passeios por Havana deparamo-nos com um grande edifício
circular, no centro de uma praça , defronte ao qual estava formada
uma longa fila, às 9 horas da manhã. Pela aparência do prédio,
pensamos tratar-se de algum museu, teatro ou coisa parecida. Qual não
foi a nossa surpresa ao sermos informados que estávamos diante da
famosa Sorveteria Copélia. A longa fila aguardaria ainda até às 10
horas quando as portas seriam abertas. Este episódio fez-nos entrar
em contato com uma das instituições mais típicas de Cuba: a fila.
Existe
fila , e bem organizada, para quase tudo. Nos restaurantes, nos
pontos de ônibus, para comprar pão e leite, nas farmácias e
segundo dizem , até nos motéis. Ao contrário do que aparentam, as
filas não significam a dificuldades de abastecimento e o caso da
sorveteria é bem ilustrativo desse fato. A explicação que
encontramos é a seguinte: existe uma grtande deficiência na
estrutura de prestação de serviços. Falta mão-de-obra para tal
tipo de trabalho. As farmácias, por exemplo, são atendidas na
maioria dos casos , por uma única pessoa. Conversando com um
funcionário cubano ficamos sabendo que este é um grande problema
não só de Cuba mas de quase todos os países socialistas. Há por
parte da população, uma supervalorização do trabalho diretamente
produtivo e um certo desprezo por outro tipo de trabalho manual.
Todos querem ser operários da grande indústrias metalúrgica ,
química ou mecânica, mas ninguém quer ser um balconista , um
escriturário, uma secretária. Daí toda uma deficiência na área
de prestação de serviços, problema que o governo tenta enfrentar
com uma política de valorização dos trabalhadores deste setor.
Mas,
de qualquer forma , o cubano faz fila numa boa, até para tomar
sorvete, e não chega a entender nossa curiosidade em encontrar
explicações . Perguntado a respeito, quase todos estranham a
indagação e respondem com outra pergunta – Por acaso existe
alguma outra forma democrática de organizar um grupo de pessoas que
esperam alguma coisa?
Em
Cuba se trabalha 8 horas por dia , de Segunda à Sexta e também em
sábados alternados. O salário mínimo equivale a Cr$ 85 000,00 e o
máximo Cr$ 500 000,00(fixados em lei). Mas com as diversas pessoas
que conversamos nunca encontramos trabalhadores de salário mínimo.
Um policial ganha o equivalente a Cr$ 200 000,00, um motorista de
ônibus Cr$ 225 000,00, uma secretária Cr$ 175 000,00, um
soldador Cr$ 220 000,00 um capitão de navio pesqueiro Cr$ 375 000,00
um médico cerca de Cr$ 450 000,00 , a nossa guia com curso superior
de tradutora e turismo, ganhava Cr$ 198 000,00.
Com
estes salários, todos são unânimes em afirmar, o trabalhador
cubano leva uma vida austera mas digna e segura , com condições de
atender a suas necessidades essenciais de alimentação, vestuário,
educação (o ensino e o material escolar são gratuitos) saúde e
lazer, situação bem diferente da que existia antes da revolução e
isto é sempre lembrado, mesmo quando não perguntado, pelas pessoas
mais velhas. A preocupação com o emprego não existe . A
Constituição cubana garante o direito ao trabalho e a política de
pleno emprego é diretriz central para o planejamento econômico.
Os
preços em Cuba têm grande estabilidade, pois, não flutuam ao sabor
dos mecanismos de mercado. O Estado controla tanto a produção como
a distribuição , além é claro, do planejamento econômico. Isto
faz com que praticamente inexistia inflação. Paga-se hoje os
mesmos Cr$ 45,00 que se pagava 25 anos atrás por uma passagem de
ônibus. O mesmo acontece com o pão, o leite e muitos outros gêneros
alimentícios.
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