terça-feira, 27 de outubro de 2020

 

O PRIMEIRO VOTO A GENTE NUNCA ESQUECE

  O golpe civil militar de 1964 atingiu duramente o PCB em Mato Grosso do Sul. O Partido perdeu sua dinâmica de militância e de direção.  Seus quadros ficaram dispersos e os mais notórios dirigentes e militantes, sofreram prisões e perseguições, a exemplo do médico Alberto Neder e do sindicalista Acelino Granja, dos carroceiros. Restaram militantes dispersos como Ascário Nantes, Renê Siufi, o professor Itamar Barreira e uma organização partidária na Selaria Cantero, da qual faziam parte Romeu Gama, Fortunato Moreira entre outros. A intervenção no Sindicato da Construção Civil, também dispersara a organização lá existente. Granja tinha virado uma espécie de despachante dos pobres, ajudando-os a obterem aposentadoria e outros benefícios, especialmente quanto à saúde.

  Foi essa situação que o advogado Onofre da Costa Lima Filho encontrou quando retornou do Rio de Janeiro, ao final do seu curso. Logo se tornou o principal articulador do PCB no Estado de Mato Grosso. No início dos anos 70, também chegamos aqui Carmelino Rezende, Ricardo Bacha, e esse engenheiro que está aqui a narrar suas lembranças.

  Ao contrário dos outros dois, eu não tinha ligação anterior com o Partidão. Durante o movimento estudantil eu militara na Ação Popular, partido de origem católica que se radicalizara no marxismo e adotava uma visão chinesa de revolução. Até então, eu sempre fizera campanha de voto nulo. Cheguei aqui pretendendo organizar a Ação Popular no estado. Na busca de companheiros, acabei me envolvendo com o PCB, que ocupava o campo da esquerda no estado.

  Na eleição de 1972, o MDB, muito fraco, resolveu não lançar candidato a prefeito. Pela Arena, nas suas sublegendas, saíram candidatos, Levy Dias, ligado a Pedrossian, David Balaniuc, liderança empresarial e o Professor Hércules Maymone, militar e professor universitário. Fiel a sua postura contra o voto nulo, o Partidão recomendou voto em Maymone. A simpatia ao seu nome devia-se ao seu comportamento como juiz-auditor na Justiça Militar, quando teve uma postura mais tolerante com relação ao julgamento dos comunistas.

  Foi nessa condição que houve uma aproximação minha, mais firme, com o Partidão. Levado pelo meu aluno de engenharia Alfredo Nimer fiz os primeiros contatos e acabei integrando-me definitivamente ao PCB.

  Da minha militância na Ação Popular como propagandista do voto nulo, dei meu primeiro voto ao candidato da Arena, partido do regime militar. Já estava rodando em modo pecebista de fazer política.

Fausto Matto Grosso

4 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Fausto! Certamente que suas lembranças e de outros camaradas renderão um belo livro!

Anônimo disse...

Parabéns Fausto! Certamente que suas lembranças e de outros camaradas renderão um belo livro!

Ivan

Sergio Leal disse...

Belo depoimento, Fausto. espero que você esteja firme, bem de saúde, para outros registros importantes para a Historiografia das esquerdas em MS.

Unknown disse...

Que bom Fausto vê-lo de novo escrevendo. Parabéns por sua narrativa. Continue firme primo para o bem de nossa história política.