BOLSONARO 2020
Está começando agora,
o governo Bolsonaro. O ano de 2019 foi dedicado ao dever de casa deixado por
Michel Temer. As medidas de maior impacto foram preparadas pelo governo
anterior.
A reforma da
Previdência, por exemplo, só não foi concluída por Temer, devido ao escândalo
da JBS. A cessão onerosa para exploração dos campos de petróleo já tinha sido
preparada por inúmeras mudanças legislativas feitas em 2018. Temer também
deixou o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) que começou a ser
implementado por Bolsonaro.
Com essas medidas, o
déficit primário da União, previsto em R$ 139 bilhões, caiu para cerca de R$ 80
bilhões e as finanças de estados e municípios receberam algum fôlego a mais.
Guedes tem muito a agradecer a Meirelles. Agora, acabou a moleza.
A conjuntura em 2020
será balizada pelo calendário eleitoral. O tempo político será muito curto.
Maio é considerado o limite para iniciativas legislativas do governo. Depois
disso, estarão acirrados os ânimos no Congresso, especialmente quanto a projetos
que afetem direitos econômicos e os relativos a privatizações.
Os resultados na
economia também terão serão variáveis políticas. O crescimento previsto de
2,31% (Relatório Focus), para grande parte dos analistas tem fundamentos
sólidos, mas quaisquer frustrações no caminho, inclusive pela crise mundial,
poderão enfraquecer gravemente Bolsonaro.
Outra questão chave é
a relação do ministro Moro com o governo. Grande parte dos analistas aposta que
falta pouco para o presidenciável deixar o governo. Considera que o ministro
pressionará para ir para a primeira vaga no Supremo, ou romperá com Bolsonaro,
complicando o quadro eleitoral de 2022.
Quanto à
governabilidade, Bolsonaro se comportou em 2019 como um primeiro-ministro sem
maioria no Congresso. Governaram, de fato, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre,
ambos do DEM, em linha direta com o ministro Paulo Guedes.
Alguns números
demonstram isso. Segundo pesquisa Barômetro do Poder (janeiro), realizada junto
a 14 especialistas, a correlação de forças no Congresso não é boa para o
Governo. De um total de 513 deputados, apenas 89 (diminuindo) são alinhados com
o governo, 268 são incertos (crescendo) e 156 são de oposição. Entre os 81
senadores, 16 são alinhados com o governo, 43 são incertos e 22 são de
oposição. Os incertos são os comandados por Maia e Alcolumbre.
O governo Bolsonaro
concilia diversas tendências em luta interna entre si. Uma das mais importantes
é a dos militares. A relação com esses tem sofrido alterações ao longo do
mandato. Inicialmente foi um grupo muito influente, mas acabou sendo
enfraquecido quando o capitão começou a temer a desenvoltura do vice-presidente
Mourão, e precisou mostrar quem mandava.
O recente
restabelecimento da força dos militares com a indicação do novo ministro,
general Luiz Eduardo Ramos para a Casa Civil, representou o que o próprio
presidente chamou de militarização do governo. Não que isso sugira uma eventual
ruptura da ordem democrática. Mas seguramente representa um fortalecimento do
viés autoritário do governo. Militar está acostumado a decidir de cima para
baixo, o que deverá problematizar ainda mais a relação do governo com a
Sociedade Civil. Conseguirá o capitão dar ordem unida a quatro generais?
Neste começo do
governo, em 2020, o Presidente precisará decidir sobre as prioridades das
inúmeras reformas que estão na ordem do dia. O Presidente da Câmara já avisou
que Bolsonaro pode mandar os projetos, mas terá de se envolver pessoalmente, ou
seja, terá que se “sujar” com a política.
Declarações recentes
indicam que a prioridade será a Reforma Administrativa, mas esta já chegará
enfraquecida pelas as declarações do ministro Guedes sobre os servidores
públicos, a quem chamou de parasitas. Isso inviabilizou seu papel de
articulador. Recuando, por preocupações eleitorais, Bolsonaro garantiu que só
os futuros funcionários serão atingidos.
Esse episódio de
Guedes, que no seu dizer motivaram uma crítica até da sua própria mãe, mostra o
despreparo do governo. Afinal, a arte de governo é de natureza tecnopolítica e
o governo articula muito mal essas duas variáveis.
FAUSTO
MATTO GROSSO,
Engenheiro
civil, professor aposentado da UFMS
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