sexta-feira, 23 de agosto de 2019


QUEM ESTÁ CUIDANDO DISSO?

  O mundo está envolvido em um processo alucinante de mudanças, que na vida cotidiana, muitas vezes não conseguimos acompanhar, diz Klaus Schwab, fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial.
  De fato, se o século passado foi marcado pela velocidade das mudanças, hoje vemos a aceleração destas. O que parece coisa distante, de repente, já se encontra entre nós: engenharia genética, veículos não tripulados, impressoras 3D, nanotecnologia, biotecnologia, internet das coisas, robótica e inteligência artificial.
  Vivemos a Quarta Revolução Industrial, com a fusão dos domínios físicos, digitais e biológicos, impulsionado pela biotecnologia e pela inteligência artificial. Isso começa a abrir, para o homem, a possibilidade da imortalidade, da felicidade e da divindade, ou seja, sua transformação em Homo Deus, nas palavras do israelense Yuval Harari, com três livros entre os cinco mais vendidos da Veja.
  Na perspectiva da história da humanidade, nunca houve um momento tão potencialmente promissor e ao mesmo tempo tão perigoso. Diante disso tudo, não há como pensar nossa vida pessoal e profissional, o desenvolvimento do país e das nossas cidades, sem olhar para os problemas de hoje, com o olhar prospectivo das grandes ameaças e possibilidades.
  As mudanças climáticas, em escala global, nos atingem em todos os lugares do mundo. As queimadas em nossa região produzem efeitos danosos em várias outros lugares do país. O mundo olha nossa Amazônia como maior reserva de biodiversidade do planeta. Estão aí as chuvas cada vez mais volumosas e frequentes, danificando nossas infraestruturas urbanas. O aumento da temperatura global deverá repaginar a produção agrícola dos países e regiões. A própria pecuária poderá ser ameaçada pela questão ambiental.
  A questão energética vai impulsionando mudanças na direção de energias limpas e sustentáveis, como a solar, a dos ventos e do aproveitamento das ondas do mar. Os meios de transportes correm hoje, na direção da sustentabilidade. Trens, de baixo consumo, começam a recarregar suas baterias a partir do próprio movimento.
  No mundo do trabalho vive-se a perspectiva de tornar as pessoas descartáveis e irrelevantes. Os robôs vão substituindo as pessoas com grande economia. O que faremos com elas? Vivemos um desemprego enorme no Brasil, com crescente “precarização” do trabalho, sob o impulso da intensa uberização das atividades humanas. Como me disse um amigo: hoje, se abrirem vagas para escravos, remunerados por comida e moradia, as filas serão enormes.
  Retomado o crescimento econômico, não garante que os mesmos trabalhadores retornarão aos seus empregos. Nesta semana foi publicado relatório do SINE indicando que das 481.485 vagas ofertadas até maio, apenas 37% delas foram ocupadas.
  Nossas cidades vivem um verdadeiro “apagão da mobilidade”, com seu trânsito caótico e engarrafamentos crônicos. Várias respostas a esse problema já são visíveis em outras paragens, tanto no transporte de massas como no transporte individual.
  Estão vindo aí, com muita rapidez, os carros e ônibus sem motoristas, movidos por combustíveis renováveis. Daqui a pouco tempo conviveremos com os veículos aéreos, sem piloto. A própria questão do transporte individual está em xeque.
  Daqui a pouco tempo os edifícios não precisarão mais de garagens, pois veremos a completa uberização do transporte. Ou então as vagas serão mínimas, apenas suficientes para os carros compartilhados do condomínio. A separação tradicional entre local de trabalho e de moradia, perderá muito o sentido. Os edifícios precisarão sim, ter locais de coworking e heliportos. Será que os códigos de obras serão permeáveis a essa mudanças?
  Tais questões são de alta indagação que terão que ser resolvidas. Quem, na sociedade e nos governos está cuidando disso?
  Esse é o desafio das lideranças, que devem buscar ter o olhar da águia e não das galinhas e patos dos quintais.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro civil, professor aposentado da UFMS


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