QUAL REFORMA DA PREVIDÊNCIA
Um fantasma assombra o
mundo. O fantasma da Reforma da Previdência Social. Surfando na onda do
liberalismo, da globalização e do tsunami demográfico, essa questão chegou
também ao Brasil.
Em 1998, Fernando Henrique aprovou a Emenda
Constitucional (EC 20) pela qual, para a aposentadoria, não seria mais levado
em conta o tempo de serviço do trabalhador, mas sim o tempo de contribuição.
Teve ferrenha oposição do PT.
Em 2003, Lula, através
da Emenda Constitucional (EC41), focada no servidor público, estabeleceu que a
aposentadoria não seria mais pelo salário da ativa e sim pela média da
contribuição. Aumentou a contribuição para 11%, e estabeleceu o teto para
servidores estaduais e federais. Para aprovação dessas medidas, contou com o
apoio do PFL e do PSDB e oposição de dissidentes petista que vieram a formar o
PSOL.
Em 2015, Dilma teve
que fazer um ajuste fiscal, e chamou para tanto o ministro liberal Joaquim
Levy. Na Previdência, aprovou a regra que somava tempo de contribuição com a
idade, cujo total que deveria atingir os 85/95 pontos. Sofreu grande desgaste
da sua base social e partidária.
Depois foi a vez de
Temer com a sua dura reforma de 2018. Só não foi aprovada pela sua baixa
governabilidade decorrente dos escândalos de corrupção que envolveram o próprio
Presidente.
A cada um desses
momentos o déficit da Previdência se apresentava maior.
Agora é a vez de
Bolsonaro. Sua proposta de Reforma é duríssima, ancorada em uma concepção
ultraliberal, focada, basicamente, no déficit previdenciário.
O resumo da história é
o seguinte: a direita atual repete as tentativas de reformas feitas pela
centro-esquerda e pela esquerda. Ou seja, a esquerda quando assume o governo
também tem que enfrentar a realidade e deixar o palanque. Vira “esquerda de
governo”, que tem que tratar do conjunto dos problemas do País. O caso mais
exemplar é o da Grécia, da frente de esquerda Syriza, onde tiveram que cortar
até aposentadorias, pensões e proventos.
Vivemos, neste
momento, a guerra das narrativas, parecidas com as que marcaram a campanha
eleitoral. Cada um tem seus números e suas verdades. É aquela situação do copo
d’agua. Uns só enxergam o meio copo vazio e outros só enxergam o meio copo
cheio, de acordo com o seu interesse.
Uma grande dificuldade
é a discussão isolada da Reforma da Previdência. Para boas decisões, a
discussão deveria ser feita no contexto de um plano de desenvolvimento. Qual
país queremos ser, como seria o financiamento da saúde, da segurança, da
educação? De onde sairá o dinheiro para infraestrutura e desenvolvimento
econômico e social, para tecnologia e meio ambiente? Como combater os
privilégios e as desigualdades? Se a
discussão se desse neste nível, seria outra, com mais responsabilidade com o
País e com os brasileiros.
Quanto à Previdência,
por exemplo, teríamos que ter respostas para o rápido envelhecimento da
população, para a diminuição do número de filhos das famílias, para o crescente
esforço para pagar as aposentadorias que acabam comprimindo as despesas
sociais. Hoje, os idosos se aposentam mais cedo e vivem mais, crescem as
desigualdades entre o setor publico e o privado. Os gastos nacionais e
estaduais têm aumentado insuportavelmente, com o Brasil destoando da maioria
dos países do mundo, quanto à aposentadoria.
Diante desse quadro,
não tenho dúvida que alguma Reforma da Previdência será aprovada. Pode ser
mais, ou menos parecida com a proposta Bolsonaro, dependendo do jogo
congressual. Diante desse quadro, a pura “resistência” é burra, irresponsável,
e reacionária. O desafio politico é travar a luta pela proteção dos mais
vulneráveis e contra as desigualdades e privilégios. Isso só se faz,
participando do processo, pressionando e negociando. Numa democracia cabe aos
movimentos sociais e de trabalhadores pressionarem em defesa dos seus interesses.
Mas, cabe aos partidos, se quiserem ser nacionais, que tratar a questão dentro
da complexidade do conjunto dos problemas do País.
Oposição à Bolsonaro,
não pode significar oposição ao País. Tem que haver comedimento. Além disso,
responsavelmente, não dá para brigar contra a demografia e contra a matemática.
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