UMA
NOVA MAIORIA
Marcado por escândalos de corrupção e por uma herança de
irresponsabilidades que marcaram a administração pública nas últimas décadas, o
País vive hoje uma grande inquietação.
As delações da Odebrecht e do grupo JBS, entre outras,
atingiram em cheio o sistema político e mostraram o alto grau de contaminação
dos poderes da república pela corrupção que molda a relação público-privada no
Brasil. Os brasileiros tomaram conhecimento da corrupção, que todos sabiam
existir, mas não conseguiam avaliar sua chocante extensão. Praticamente, não
sobrou pedra sobre pedra na política brasileira, agravando a apartação do mundo
da política em relação à sociedade. Vivemos
um grave déficit de representação.
Ao mesmo temo vivemos uma profunda divisão no interior da
sociedade política e da sociedade civil. A guerra não pode ser a continuação da
política, e sim a política a continuação da guerra. As divergências são
naturais nas sociedades democrática, mas as disputas sectárias precisam cessar
nesse momento de grave crise institucional, onde as vitimas serão os
brasileiros, especialmente os mais vulneráveis.
O
Governo de transição, herdeiro de um enorme passivo econômico e social, mesmo as custas de práticas da velha política
fisiológica, estava começando a colher os primeiros frutos do enfrentamento da
crise econômica, quando o Presidente foi fulminado, também, por denúncias que
lhe tiraram qualquer capacidade de manter a governabilidade e a continuidade
das reformas.
Hoje o presidente Temer está com os dias contados. Apenas não
se sabe qual será a forma do seu afastamento. Impõe-se às forças democráticas o
desafio de organizar a continuidade da transição até as eleições de 2018,
dentro dos ditames da Constituição.
Muitos esperam o nome do futuro presidente como se houvesse
alguém, com predicados especiais, capaz de tirar o país da crise. Não existe
esse nome. Só a conformação de uma "nova maioria" construída a partir
do reconhecimento da gravidade da crise e por forte pressão da sociedade, pode
conformar um novo bloco político comprometido com a continuidade das reformas e
com medidas de recuperação da economia.
Para isso impõe-se o amplo diálogo que deverá envolver
setores responsáveis da oposição e da situação. Gostemos ou não, deverão ser
construídas pontes entre o PT, o PSDB e o PMDB, as três maiores forças
políticas do País. Isso poderá ser a oportunidade de medir o grau de
responsabilidade que esses partidos tem com o País, para além de seus projetos
de poder. É hora de dar curso à escolha, via Congresso Nacional, do novo presidente
para a continuidade da transição. Impõe-se o isolamento dos extremos
salvacionistas e oportunistas que têm se igualado na prática da intolerância,
às vezes da violência.
A "maioria" costurada por Temer, com forte
componente fisiológica, não servirá mais para esse momento. Não há mais trocas
a fazer com essa gente, essa via se esgotou. A construção de uma nova maioria,
que possa sustentar a continuidade da transição, exige a troca da pequena
política, onde cada deputado é uma entidade, pelo fortalecimento de lideranças
comprometidas com a grande política que o momento exige.
Não tenhamos ilusões, gostemos ou não, a transição terá que
ser feita como o mesmo Congresso que se encontra desmoralizado pela velha
política fisiológica. Não existe outro. Mas os homens são eles próprios e as suas
circunstâncias históricas. A Lava Jato,
pode impor uma nova lógica nas relações políticas, principalmente se isso for
combinado com uma forte pressão da sociedade.
Entre as reformas a serem feitas nesse período, impõe-se a do
sistema eleitoral e a da organização partidária, que controle ao descalabro dos
partidos de aluguel. Temos que chegar a
2018, com novas regras que inibam a influência do poder econômico nas eleições,
matéria que está na raiz da atual crise de representação, ao mesmo tempo que se
reestruture o sistema partidário em torno da representação de ideias e valores,
acima dos interesses dos políticos profissionais.
O Brasil não vai acabar, temos que aproveitar essa crise,
para mudar a qualidade da nossa política, afinal, sem ela não há democracia.
Fausto Matto Grosso
Professor da UFMS. Membro do
Diretório Nacional do PPS.
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