O PODER DO DINHEIRO
De repente fez-se a luz: o poder está corrompido, o rei
está nu. O Petrolão e a Lava a Jato acabaram revelando o que quase todo mundo, a
não ser os muito distraídos, já sabia e fazia de conta que nada existia.
Emílio Odebrecht, o pai, candidamente, disse que deste o
tempo do avô era comum destinar dinheiro para eleição dos políticos e para os
partidos. Disse mais: que a diretriz da
empresa era não doar para nenhum ou dar para todos os concorrentes. Aí
revela-se muito da essência da relação do capital com o poder, a amoralidade.
Se somos obrigados a concordar que "sempre foi
assim", temos que enxergar que nas últimas décadas esse processo foi
exacerbado e tornado determinante nos projetos de poder dos grande partidos.
É bom ter em conta, também, que estamos tratando até
agora quase somente das empreiteiras, nem chegamos aos bancos privados e
públicos, aos frigoríficos e outros grandes financiadores regionais.
Surge nessas horas a dialética do ovo e da galinha. Quem
é o corrupto e quem é o corruptor. O circulo da promiscuidade é fechado. Depois
de tantas décadas se naturaliza e perde-se a ponta. Minha aposta é que o
capital, pela sua lógica, é o elemento proativo que corrompe a política e se
apropria do Estado em interesse próprio, criando interesse recíproco com os
políticos. A Lava a Jato pode ajudar a quebrar esse circulo de ferro.
As implicações políticas da amplitude das denuncias da
lista do Janot, quebra da lógica perversa do "costumeiro" e do
"sempre foi assim". Deputados,
senadores e outros políticos, como enxames de marimbondo acossados por fogo,
buscam desesperadamente a sobrevivência, às custas de expedientes acintosos ou
disfarçados. Fala-se em separar joio do trigo e em anistia para limpar os
"pequenos malfeitos".
Projetos são urdidos principalmente para anistiar o
"caixa 2" dos políticos e dos partidos, usados nas campanhas. O caixa
2 é um dos mais graves crimes políticos, principalmente pela sua natureza de
fraude no processo da disputa eleitoral, atentando contra a democracia e contra
a república. Essas iniciativas podem surgir, inclusive nos dispositivos a serem
votados na reforma política em discussão no Congresso e que já envolvem o
Executivo e o Judiciário. Todo o cuidado é pouco contra essas espertezas e a
melhor defesa é ampliar, cada vez mais, a pressão da opinião pública.
Para quem acompanha o processo eleitoral, essa situação
perversa não é novidade. Quando se fala em candidaturas, as primeiras perguntas
que são feitas é quem vai bancar quem quanto às despesas de campanha. As listas de candidatos para os legislativos e
coligações são feitas em torno das candidaturas majoritárias, principalmente
dos partidos maiores, as principais mobilizadoras de recursos, seja por já
controlarem governos ou por sua viabilidade de vir a tê-los, com capacidade de
retribuir, futuramente, as ajudas recebidas.
Fica transparente, também, que o problema da moralidade
política não está apenas na proliferação de legendas de aluguel, mas
principalmente nos maiores partidos que controlam o poder real.
Essa lógica perversa impede a disputa limpa, republicana,
democrática em torno de programas, opiniões e ideias e tem ampliado o descrédito
na política, exacerbado nos últimos tempos, gerando a crise da representação.
Saídas para essa situação não são simples, constituem os
dos principais desafios da democracia brasileira. O sistema eleitoral e
partidário tem que serem remontados, sem espertezas, para que se recupere a
confiança na democracia. É necessário saber quem financia quem, é preciso
restringir radicalmente os gastos de campanhas, torná-los mais transparentes e
controláveis
Mas, não falemos apenas do passado e do presente. Novo
processo eleitoral, o de 2018, já começa a ser montado e merece ser acompanhado
com a visão crítica que a Lava Jato está propiciando à opinião pública. É
preciso dizer sonoros não às farsas eleitorais.
Fausto
Matto Grosso
Engenheiro
civil, membro da Direção Nacional do PPS
16.03.2017
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