PRECISA-SE DE NOVOS POLÍTICOS
Somente
uma nova política pode dar solução ao esgotamento dos valores
decadentes da velha política, essa que anda apedrejada pelas ruas e
pelas praças. Para essa nova política, precisamos políticos de
outra natureza, profundamente diferente.
Oriundo
de uma militância política em partido clandestino, a noção da
relação entre participação política, mandato e poder não foi de
um aprendizado fácil para mim e para muitos da minha geração.
Participar politicamente significava defender ideias, divulgá-las na
sociedade, nas suas organizações e ajudar as pessoas a se
organizarem em torno das suas lutas.
O
importante eram as ideias, não os líderes e mandatários. Lembro-me
perfeitamente, no “Partidão”, como nos regozijávamos quando
outras lideranças, mesmo fora das nossas fileiras, como aliados ou
simpatizantes, as adotavam. Isso nos bastava, a fertilidade das
nossas propostas.
A
ilegalidade nos impunha essa racionalidade e, talvez até, a tenhamos
conservado para além do tempo razoável, mas esse foi um pouco da
nossa história. Ter pretensões eleitorais próprias, durante muito
tempo, era uma coisa mal vista entre nós, era considerada um espúrio
sinal de “carreirismo”. Quando o avanço da democracia foi nos
tornando possível exercer mandatos, esse era considerado uma missão,
um encargo de representação. Lembro-me da minha primeira
candidatura, Fiquei sabendo que seria candidato durante a nossa
conferência eleitoral, que antecedeu a convenção do PMDB. O
partido precisava de alguém com o meu perfil.
Parece
que falo de um outro mundo, de um outro país. Especialmente os
jovens, olhando a realidade da degradação política de hoje, devem
estar pasmos, ou me achando maluco, ao ficar sabendo que isso já
aconteceu na história do Brasil. Já houve um tempo em que a
vereança era um cargo honorário, que políticos, às vezes
poderosos, terminaram a vida modestamente. Que partido era partido e
que mudar de partido era incorrer em uma condenação moral grave,
eram os “traíras”. Política era para os mais respeitados, para
aqueles de maior representatividade, e não para os mais ousados que
se atiram à política para se aproveitar desta, não raro se
tornando, da noite para o dia, homens miraculosamente ricos, donos de
fortunas inexplicáveis.
Destruir
a tradição partidária do país e estabelecer um fosso entre as
gerações, talvez seja o pior desserviço da ditadura de 20 anos, o
de abastardar a política, ao proibir as ideias, ao transformar os
partidos em simples correias de transmissão do poder ou naquilo que,
mesmo nascendo na oposição acaba mostrando que pretende apenas
trocar de sinal para fazer a mesma política contra a qual insinuavam
lutar. Paralelamente surgem aquelas outras agremiações, criados de
ocasião, de encomenda, doadas de “porteira fechada” a chefetes
locais, para negócios pessoais, ou para o jogo de alianças
subalternas.
Surgiu
o político autônomo, o político de mercado, representando o vazio
ideológico que se formou no país. Fortaleceu-se a tal da “classe
política”, uma excrescência conceitual ou a consciente formação
de uma corporação voltada para si, para seus privilégios tendo
como principal regra a da eterna perpetuação nos cargos, a qualquer
custo.
Tenho
convicção da impossibilidade de uma generalização dessa natureza,
mas tenho, também, a convicção de que essa é a moda estatística
flagrante que caracteriza a política real. Sei também o quanto
desse comportamento é resultante das regras do sistema
político-eleitoral. Mas cabe aos homens e aos políticos
reformularem as regras perniciosas desse jogo político. Talvez a
próxima eleição possa avançar na direção daqueles líderes que
sinalizem e que se comprometam com as reformas necessárias e com a
postura hígida desejável, para que a política possa vir a
reconquistar o respeito que deveria merecer da sociedade.
Fausto
Matto Grosso
Engenheiro
e professor da UFMS, aposentado.
06.06.2014
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