MAIS UMA DE COLUNA
Não
existe mal maior do que o da coluna. Não há reunião festiva ou
conspiração política, mesa de bar ou reunião de trabalho, festa
de casamento ou velório sem que alguém venha a ensinar, ao coitado
sofredor, uma mezinha já testada, um tratamento miraculoso ou um
massagista japonês infalível. O “colunista” é acima de tudo
um irritado sofredor social. Começa a detestar até aos amigos mais
solícitos e bem-intencionados.
O
pior é quando a coluna é de um engenheiro calculista, que começa a
suspeitar de uma absoluta inadaptação estrutural de seu esqueleto.
O esqueleto é uma caveira que não para em pé, absolutamente
instável. Estrutura hipoestática, não se sustenta por si própria,
como ensinava o vetusto professor de Resistência dos Materiais. Daí
a chatice de ter que fazer academia ou fisioterapia para a
musculatura ficar apta para ajudar o esqueleto a se sustentar.
Também
pudera, a tal da coluna, no nosso ancestral peludo era uma viga
horizontal. Por culpa de um naturalista subversivo Charles Darwin o
bicho começou a se levantar, liberando as patas dianteiras para usar
instrumentos. Um deles, mais defeituoso, teve uma mutação e, ao
contrário dos outros animais começou a ter um dedo que se movia em
direção à palma da mão, o que lhe ampliou a facilidade de usar
instrumentos. Aí tudo mudou.
O
filme “2001 - Uma Odisséia no Espaço”, feito nessa ocasião,
flagrou o momento em que o abusado do símio jogou o osso para os
céus e este virou uma nave espacial.
Bem
sucedido com essa vantagem competitiva, nosso parente peludo ganhou
espaço entre as espécies. Usando suas armas de ossos, paus e
pedras, para disputar proteína animal com os grande predadores,
começou a desenvolver, no seu cérebro, os rudimentos do raciocínio.
Começou a estabelecer a relação entre o uso que faria das
ferramentas e os resultados que poderiam ser obtidos. Acabou
virando um animal sofisticado, com cérebro maior e especializado,
com capacidade de pensar. Deixou de ser animal bicho e virou animal
homem, até com direito a ser candidato a Presidente ou Senador.
Mas,
ao que parece, o castigo dos céus não demorou muito. Foi condenado
a ser um animal inadaptado, pois teve a sua ossatura horizontal,
originalmente desenvolvida para funcionar como viga, transformada em
um pilar na vertical. Essa foi sua condenação por alterar o rumo
natural das coisas. Adicionalmente foi castigado: em qualquer lugar
por onde andasse teria que ouvir conselhos sobre como sarar da
coluna.
Pedindo
perdão antecipado aos especialistas, também dou a minha receita
salvadora para curar das dores da coluna: é o sujeito voltar a andar
de quatro, aliás, posição que numerosos bípedes pensantes,
acomodadamente, já adotam há muito tempo.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Engenheiro
e Professor da UFMS
faustomt@terra.com.br
Publicado
no Correio do Estado em 03.02.2009 e
Jornal
da Cidade On line em 02.08.2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário