FORMAS EFETIVAS DE INTEGRAÇÃO DAS ATIVIDADES ACADÊMICAS (A EXPERIÊNCIA DA UFMS)
"Gerar
e disseminar conhecimento para a sociedade, obedecendo o princípio
da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão".
Assim foi definida a missão da UFMS no processo de planejamento
estratégico que produziu o nosso Plano Diretor 94/97.
A
"Política de Extensão", em apreciação no Conselho de
Ensino e Pesquisa e Extensão, caracteriza a extensão universitária
como "processo educativo, cultural e científico que articula o
ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação
transformadora entre a Universidade e a Sociedade".
Nessas
definições estão contidos os elementos estruturadores da nossa
ação acadêmica.
Ressalta-se
imediatamente o compromisso com a produção do conhecimento e não
apenas de sua reprodução. Ao mesmo tempo assenta-se o compromisso
de orienta-lo a uma ação recíproca, transformadora, entre a
Universidade e a Sociedade.
Patenteia-se
também a compreensão de que a extensão, atividade de ligação da
pesquisa e do ensino com a sociedade, não tem autonomia em relação
a essas funções básicas e fundamentais. Quando o ensino e a
pesquisa ligarem a teoria à pratica social e responderem às
demandas concretas da sociedade, perderia sentido a extensão como
categoria específica de trabalho acadêmico. Enquanto tal não
acontece, importante papel cabe à extensão universitária, no
sentido de tensionar o ensino e a pesquisa em direção à sociedade,
buscando com ela uma relação dialética, de influência recíproca.
As
dificuldades para a implementação dessa visão de extensão são
imensas. São exatamente do tamanho do desafio que pesa hoje sobre a
Universidade Brasileira. Romper a tradição de isolamento cultural,
de cientificismo alienado, de distanciamento político e de
alheiamento em relação aos problemas concretos vivenciados pela
sociedade constitui desafio capaz de revolucionar a Universidade e
faze-la digna do apoio social, político e econômico que reivindica.
Estas
questões conceituais não são, entretanto, objeto de nossa análise,
constituem apenas o pano de fundo para as questões práticas
suscitadas pelo tema proposto.
Estão
postas para a extensão na UFMS três desafios fundamentais de
trabalho:
I
- Tornar a Universidade permeável às demandas e à participação
da sociedade. Nesse sentido busca-se privilegiar iniciativas que
sejam fruto de demandas concretas das organizações governamentais e
não-governamentais, articula-se um amplo leque de convênios de
cooperação mútua, e busca-se mecanismos de articulação
permanente com a sociedade ( Exemplo: criação da Associação de
ex-Alunos, implantação, em 95, do jantar mensal de trabalho que
reunirá dirigentes da Universidade com dirigentes e lideranças da
Sociedade Política e da Sociedade Civil, etc.).
II
- Levar à sociedade, como parte do processo de construção da
praxis do conhecimento, a nossa produção científica, técnica e
cultural.
III
- Buscar a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão. Este
desafio, concatenado com os outros dois, é exatamente aquele que
constitui o foco de interesse da presente análise e que procuraremos
desenvolver na continuidade.
A
administração do sistema de extensão da UFMS nos últimos dois
anos levaram-nos a algumas conclusões de como pode se dar, na
prática, a integração entre ensino, pesquisa e extensão, de como
o ensino e a pesquisa podem se transformar em extensão, e esta, por
sua vez, pode possibilitar o desenvolvimento do ensino e da pesquisa.
Não que já tenhamos conseguido levar plenamente todas essas idéias
à pratica. Muitas delas correspondem apenas a propostas ou a
expectativas que precisam ainda ser materializadas.
Nesse
sentido apresentamos algumas indicações objetivas, de carater
prático:
a
- Criação de pólos de extensão. Corresponde à idéia de adotar
determinadas regiões como área de concentração de atividades da
Universidade, verdadeiros laboratórios para a nossa intervenção
interdisciplinar. Concentrar ações em um mesmo objeto, ajuda na
integração das ações e potencializam a interlocução do diversos
agentes. Seriam levados a essa região os estágios supervisionados
dos diversos cursos, atividades de extensão como assessorias às
escolas, aos postos de saúde, às empresas, aos pequenos produtores
e ao movimento comunitário, pesquisas realizadas por alunos e
professores (levantamentos de indicadores econômicos, sociais e
ambientais, estudos de uso e ocupação do solo, sobre geração de
emprego e renda, etc. A confluência dessas diversas ações
multidisciplinares, de ensino, pesquisa e extensão acaba provocando
a integração e a ação recíproca entre elas, com ganhos de
qualidade para todas elas. A UFMS desenvolve atualmente, dentro
dessa perspectiva, o "Programa Bacia do Córrego Bandeira",
com o apoio da SESu/MEC.
b
- Pesquisa com transferência de tecnologia. Os pesquisadores muitas
vezes se contentam em ver publicados seus "papers" nas
revistas especializadas. A Universidade não pode se limitar a isso,
pelo contrário, deve buscar democratizar e generalizar na sociedade
(extensão) as informações sobre os resultados das investigações
, levando a ciência à vida cotidiana. Exemplo: a pesquisa sobre
reprodução dos peixes regionais, gerou a tecnologia que embasou o
desenvolvimento da piscicultura de Mato Grosso do Sul, que por sua
vez, passou a exigir novas pesquisas. De forma semelhante aconteceu
o trabalho sobre a reprodução de jacarés em cativeiro.
c
- Implantação de Programas de Educação Continuada. Este tipo de
atividade liga o ensino com a extensão e responde a uma exigência
colocada pela rápida superação do conhecimento que tem decorrido
da Revolução Tenico-Científica. O exercício dessa prática ajuda
a sintonizar e sincronizar o ensino e a pesquisa com a realidade da
produção da vida material e espiritual da sociedade e tensiona
vigorosamente tais atividades acadêmicas no sentido da sua
atualização e qualificação, trazendo implicações para as
estruturas curriculares e indicações para os programas de pesquisa.
A experiência da UFMS tem sido a de programar tais atividades em
parceria com as entidades profissionais (atualmente temos convênios
para essa finalidade com cerca de 35 entidades entre Conselhos,
Sindicatos, Associações e Sociedades de especialidades)
d-
Abertura de disciplinas à matrícula de alunos em regime especial.
Essa modalidade era antiga na UFMS, mas muito pouco incentivada,
divulgada e utilizada. Havia sido criada, quando entre nós vigia o
regime de matrícula por disciplina. Com a mudança para o regime
seriado, a legislação a ela relativa caducou. Durante o ano de
1994 os cursos de Economia e Administração, ofereceram como
atividade de extensão, em caráter experimental, vagas em 6
disciplinas, com intensa disputa pela oportunidade. Lideranças
sindicais e outros membros da comunidade participam dos cursos de
Teoria das Crises Econômicas, Economia Brasileira, Introdução à
Economia e Economia Política. Técnicos da Sanesul, cursam
disciplinas da área de Administração, como parte do programa de
desenvolvimento de recursos humanos da empresa. Essa experiência
ainda está por ser avaliada, mas nutrimos grandes expectativas pela
sua generalização. Os benefícios à comunidade são
importantíssimos, ao mesmo tempo, a interação desses alunos
especiais, mais maduros, alguns com grande experiência prática, com
os alunos regulares e com os professores, tem condições de impactar
positivamente as turmas e mesmo o nível de trabalho com as
disciplinas.
e
- O uso dos estágios supervisionados com o objetivo de
estabelecimento de relação transformadora entre universidade e
sociedade. Tradicionalmente o momento do estágio tem sido o de
reconhecimento de que "a teoria na prática é outra".
Esta situação, quando acontece, revela o ensino defasado em relação
realidade da sociedade. Um ensino de boa qualidade e atualizado deve
ser capaz de colocar o estagiário em uma condição transformadora
(não apenas receptor passivo de informações técnicas dos modus
operandis consagrados), interagindo com a sociedade (portanto fazendo
extensão) e levando a ela o conhecimento técnico e científico
qualificado e recolhendo dessa o "feed back" tão
necessário para fazer o ensino avançar.
Esperamos
que a apresentação dessas experiências, reflexões e idéias possa
ajudar na construção coletiva de caminhos para a extensão
universitária transformadora.
FRANCISCO
FAUSTO MATTO GROSSO PEREIRA
artigo.doc
- 18/11/94 Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Estudantís da UFMS
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