DE IMIGRANTES E EMIGRANTES
A questão dos imigrantes está hoje no centro da agenda
mundial com seus dramas e desafios. Diariamente, os meios de comunicação nos
falam dessa questão na Europa, nos Estados Unidos e no Oriente Médio. Nosso
país foi construído por imigrantes e escravos.
Mesmo a nossa
população indígena – cerca de 4 milhões na época do descobrimento - já era
originária de imigrações. A esse respeito, a tese mais aceita é que os
ameríndios são descendentes de caçadores asiáticos que cruzaram da Sibéria para
América do Norte, através do Estreito de Bering, durante o final da era do
gelo. Há cerca de 10 mil anos esses povos chegaram ao atual território
brasileiro. Colombo os chamou de “índios” porque imaginava ter chegado às
Índias.
O novo ciclo de
imigração para o Brasil, não começou, também, com o descobrimento, pois as
primeiras pessoas que aqui ficaram – condenados e degredados - não o fizeram
por vontade própria, o que não caracteriza a situação de imigrantes. A
imigração - pessoas que para cá vieram para morar e viver - teve início em 1530
com a chegada dos primeiros colonos portugueses. Também vieram para cá muitas
famílias portuguesas ricas, que se fixaram em Pernambuco e Bahia. Os
portugueses pobres ficaram em outras regiões mais periféricas, como o Maranhão.
No Sec. XVI, vieram
para cá cerca de 50 mil portugueses e 50 mil escravos africanos, estes,
principalmente para a lavoura da cana de açúcar. Já no Sec. XVII, aqui
aportaram cerca de 550 mil africanos e 50 mil portugueses na época de grande
desenvolvimento da mineração especialmente em Minas Gerais. Os escravos não se
enquadram exatamente como imigrantes, pois não vieram para cá por vontade
própria.
Com a abertura dos
Portos do Brasil, em 1808, inicia-se uma nova fase de imigrações e esta passa a
ser feita, normalmente, organizada pelo governo. Os primeiros foram cerca de
300 chineses de Macau, trazidos príncipe regente (futuro rei D. João VI) com o
objetivo de introduzir o cultivo de chá no Brasil. Também, nesse período,
vieram os suíços para ocupar a região serrana do Rio de Janeiro e que deram
origem ao município de Nova Friburgo.
Após a Independência a
imigração visava principalmente ocupar as terras vazias do sul do País - Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Os alemães se dirigiram principalmente
para o Vale do Rio dos Sinos, onde deram origem à cidade de São Leopoldo.
Italianos foram assentados na Serra Gaúcha onde plantavam uva, trigo e milho e
deram origem a Caxias do Sul.
No início do século
XX, chegaram os japoneses. A maior parte desses imigrantes se dirigiram para as
plantações de café no estado de São Paulo. Nesse mesmo período vieram os
sírio-libaneses e palestinos, com destino aos centros urbanos, em particular
São Paulo e Rio de Janeiro.
Todos esses povos
tiveram grande impacto na cultura, na demografia e na economia brasileira. O Brasil foi, portanto, um grande receptor de
imigrantes que para cá vieram buscar uma vida melhor, “fazer a América”, como
se dizia.
Essa situação começa a
se inverter a na década de 1980, quando passamos à condição de país exportador
de brasileiros, sobretudo para os Estados Unidos, o Paraguai, a Europa e o
Japão.
Pesquisa recente do Instituto Datafolha apontou
que 70 milhões de brasileiros com mais de 16 anos, deixaria o Brasil se
pudessem. O número é assustador, corresponderia ao desaparecimento de toda a
população de SP, RJ e PR.
Iriam embora do Brasil
62% dos jovens da faixa 16 a 24 anos; 43% da população adulta; 56% daqueles com
curso superior; 51% das classes A e B. Os Estados Unidos teriam 14% dos nossos
emigrantes, e 8% iria descobrir Portugal.
Nosso País deixaria de
ser o destino dos imigrantes, que fizeram nossa história, nossa cultura e nosso
desenvolvimento e passaria a exportar gente desiludida, desesperançada e que
quer buscar vida melhor fora do Brasil. Estaria invertido a nosso perfil como
País, para nossa vergonha e indignação.
Fausto Matto Grosso
Engenheiro civil, professor da UFMS (aposentado)
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