O BRASIL QUE EU QUERO
Governar é resolver problemas. Por conta disso, surgem nos períodos eleitorais, pesquisas sobre quais seriam os principais problemas do País. Também a Rede Globo, lançou o Programa o Brasil que eu quero para o futuro, pesquisando as percepções das pessoas sobre os problemas existentes.
Tem uma meia dúzia de
problemas que constam de todos os levantamentos: corrupção, saúde, desemprego,
segurança, educação e drogas. Nos últimos levantamentos, corrupção, desbancou a
tradição da saúde no topo do ranking.
Será possível escolher
um deles, como prioridade absoluta, para resolver o país? Imagine, por exemplo,
que Sergio Moro coloque na cadeia todos os corruptos. Como estaria o Brasil, do
dia seguinte? Só para ajudar no raciocínio: foi estimado que o país perdeu, em
2016, 69 bilhões de reais com a corrupção, enquanto foram pelo ralo 500 bilhões
com a sonegação.
Na verdade, todos
esses problemas têm uma interdependência sistêmica. Articulam-se no estilo de
desenvolvimento, são frutos de opções estratégicas adotadas. Elas explicam
nossa situação atual, bem como e para onde devemos buscar a saída.
Todos esses problemas tem que serem enfrentados com uma
dosimetria adequada. O problema é que cada um dos brasileiros tende a pensar os
problemas olhando para si, situação tão corriqueira na cultura individualista
atual. Por exemplo, no topo do ranking, atualmente, está a corrupção. Será que
na hora da eleição esse problema orientará a decisão do voto? Alguns analistas
duvidam disso. Apostam que na hora do vamos ver, o voto será orientado pela
pergunta: o que eu irei ganhar com isso?
Selecionar e priorizar problemas tem lá os seus segredos.
Alguns problemas são graves, outros são urgentes e outros têm a tendências de
agravamento se não forem tratados a tempo.
A título de exemplo, a
saúde é dos mais graves, pois diz respeito à vida e à dor das pessoas, mas sua
solução tem baixa repercussão nos demais problemas. Entretanto, parece que deva
ser valorizado pela existência de um modelo de sucesso, já criado, o SUS, um
dos mais avançados do mundo. Falta dinheiro, gestão e combate à corrupção.
A corrupção deve ser
priorizada, pelo critério da tendência. Perder a oportunidade criada pela Lava
Jato e deixar para depois, seria permitir um retrocesso inaceitável. Além
disso, ajudará a melhorar a qualidade das políticas públicas em todas as áreas.
Um exemplo de problema
urgente é o desemprego pelo efeito devastador que tem produzido na sociedade.
Seu encaminhamento, ajuda na saúde, nas drogas, na segurança entre outros, tem
grande efeito multiplicador.
Por outro lado, para
enfrentar os problemas, é preciso baixar a bola e nos enxergarmos como
realmente existimos. Estamos muito mal. Somos a oitava economia do mundo, mas
somos um país profundamente desigual. No aspecto territorial, somos dois
países, um de Belo Horizonte para cima e outro com o que fica abaixo. Além
disso, somos uma sociedade profundamente desigual no aspecto social.
Sétimo PIB mundial,
segundo as Nações Unidas, estamos em 64º lugar em PIB per capita (2014), atrás
da Argentina, Panamá, Chile, Venezuela e Uruguai. Se o critério for o IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano) do PNUD, estamos em 74º lugar, atrás de Cuba
e Venezuela, entre outros latino-americanos.
Segundo o Relatório da ONU sobre felicidade humana (2017) nos
saímos um pouco melhor, conquistando um 22º lugar, onde entre os seis
primeiros, cinco são os países nórdicos, construídos pelo projeto social
democrata. Nosso sucesso relativo, talvez se deva ao futebol e o carnaval.
A partir dessa nossa realidade complexa, temos que
estabelecer um novo estilo de desenvolvimento, sem medo de mudar, pois a
característica principal do mundo atual é o da redefinição dos paradigmas.
É preciso, assentar os primeiro os trilhos, como diz o
senador Cristovam Buarque, para, então, por a correr a locomotiva.
Falta redefinir rumos para o Brasil, em um mundo em profunda
transformação, com a globalização e com as novas tecnologias que se assentam no
conhecimento. Nada, jamais, será como já foi um dia.
Fausto Matto Grosso
Engenheiro, professor aposentado da UFMS.
03.05.2018
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