QUANTO MAIS MUDA, MAIS FICA A MESMA COISA
A
Hidra de Lerna na mitologia grega tinha um corpo de dragão e dez
cabeças enormes de serpentes, que exalavam um hálito mortífero, e
que se regeneravam à medida que iam sendo cortadas, ou seja,
matava-se uma e surgia imediatamente outra em seu lugar. Apenas uma
das cabeças era mortífera e Hércules teve que encontrá-la para
liquidar o monstro.
Qual
será o segredo da tão clamada mudança da política em nosso Pais?
Haverá solução para a sua mal-cheirança? Haverá algum ponto
chave para o abate dessa coisa monstruosa? na qual se transformou “a
mais nobre das atividades dos homens”, como a caracterizava
Aristóteles.
No
meio a uma enorme expectativa de mudanças da política existente na
sociedade, a última eleição representou mais do mesmo, ou seja,
quanto mais mudou, mais ficou a mesma coisa.
Se
perguntarem à maioria dos candidatos a vereadores, eleitos ou não,
o que tinha mudado nessa última eleição em relação à de 2004, é
provável que poucos tenham consciência que disputavam um mandato
que não lhes pertenceria e sim aos seus partidos com os seus
programas respectivos. Essa foi a decisão do TRE em outubro de 2007,
que causou enorme e positiva expectativa na opinião pública, como
sinalização de que se ferira de morte a velha política.
Diante
disso, era de se esperar que a última eleição municipal se
processasse em um clima totalmente novo, pois afinal quem disputaria
seriam os partidos, as idéias e os programas, e não os candidatos.
Qual nada, a velha e fedorenta hidra continuou exalando o hálito
mortífero, contra as esperanças de mudanças, foi uma eleição
igualzinha às outras. Continuou a prevalecer o conceito criado nos
últimos tempos, descaradamente, de que política é coisa para
“profissionais” e não para o habitante da polis, o cidadão.
Os
partidos, salvo alguns pequenos de esquerda, praticamente não
existiram no último processo eleitoral. Não se discutiram
diferenças político-ideológicas ou programáticas em relação à
cidade. Toda a campanha foi feita no singular do discurso
individualista dos candidatos inclusive prometendo coisas que não
lhes competiria realizar, a não ser através de uma inaceitável
relação de troca com o Executivo.
Fui
um dos que procuravam os partidos nos adesivos dos automóveis.
Quanta dificuldade. Em alguns, precisava-se encostar o dedo no vidro,
pois só a essa distância era possível enxergar o nome do
partido-candidato. É possível que com essa dificuldade, muita gente
tenha votado no preposto e não no partido-candidato, talvez se
caracterizando uma eleição-estelionato.
Haveria
condição para uma eleição diferente? O povo entenderia e se
contentaria em escolher o partido – como o faz sem saber – em vez
do candidato? Uma mudança na cultura política dos eleitores não é
assim tão fácil, tenho consciência disso, mas se perdeu uma enorme
oportunidade de começar um processo de educação e qualificação
política dos eleitores. Como falou Gabeira, vitorioso politicamente
no Rio de Janeiro, já passou da hora de banir a hipocrisia da
política. Mas contra isso se postaram os
representantes-beneficiários da política tradicional, diante da
omissão indesculpável dos partidos.
Construídos
da maneira como o foram, como funcionarão nos novos parlamentos
municipais? Serão os palcos dos partidos e programas, como manda a
lei, e a boa política, ou serão a continuidade do vôo solo dos
projetos pessoais.
Como
serão as relações institucionais entre as câmaras e os
executivos? As novas alianças terão bases programáticas,
envolvendo os partidos-eleitos ou continuarão a serem marcadas pela
cooptação por meios, não raro, pouco dignos?
Dizia
o velho nordestino que “pau que nasce torto morre torto”. Quem
sabe a política em nosso Estado nos cause uma surpresa agradável
que possa desmentir esse adágio e comece a ser feita com a grandeza
que merecemos nós os cidadãos.
Fausto
Matto Grosso
Engenheiro
e Professor da UFMS