QUANDO TUDO ACONTECE
Os
partidos e os políticos estão sobre crítica velada, ou aberta, da
sociedade. Muitos já são os brasileiros que não acreditam que haja
salvação para tais instituições. Fossem apenas descaminhos
localizados e pontuais, bastava trocar de partidos e de políticos.
Mas, temos que reconhecer que, após a redemocratização, todos os
grandes partidos já governaram o país, inclusive os de esquerda e
foram incapazes de mudar a política.
Tal
situação é grave e coloca em descrédito e risco grave a própria
democracia, afinal não inventaram ainda democracia sem política.
Não se trata de simples crise conjuntural que diga respeito a alguns
partidos e políticos, mas sim, uma crise estrutural da política com
instrumento de construir a convivência civilizada entre pessoas,
instituições e grupos sociais.
O
momento atual, reconhecidamente, é de crise grave. Entretanto
partidos e lideranças políticas parecem não se darem conta disso.
Neste
exato momento se prepara a reprodução de uma prática política
profundamente condenável, o troca-troca partidário de natureza
pragmática e oportunista, pois em setembro esgota-se o prazo de
filiação dos pretensos candidatos de 1988. É agora quando tudo
acontece.
Tais
mudanças não são motivadas por razões de consciência, por
posicionamentos programáticos ou ideológicos, mas sim, por busca de
espaços eleitorais mais favoráveis para a próxima eleição. Esses
novos filiados, não raramente, já chegam ao novo partido com a
futura traição anunciada. Usam-no enquanto isso for útil, e o
abandonarão na próxima conveniência.
Nesse
sistema de conveniência imoral, não existem vítimas ou culpados.
É a reprodução do quadro de desagregação ética da política.
Normalmente as lideranças majoritárias mais competitivas, portanto
com maior capacidade de agregação de interesses, encaminham seus
apoiadores para diferentes partidos “satélites” para “armar o
time” e estes aceitam tais filiações para serem recompensados por
alguma benesse da futura coligação.
Não
se nota um esforço, por parte dos partidos, de incluir lideranças
emergentes dos movimentos da sociedade, dos grupos representativos,
da cidadania organizada, ou seja, gente capaz de arejar a política e
os partidos. Trata-se, apenas, de um sistema de rodízio, de
reciclagem dos mesmos quadros da política tradicional, muitos deles
velhos fregueses de candidaturas sem representatividade.
Mudar
essa situação é um enorme desafio pois encontra grande dificuldade
diante dos costumes e praticas políticas tradicionais que ainda
permanecem fortes e hegemônicas nos partidos. Por isso, cada vez
mais, se adiciona combustível para a crise ética da política.
Mas,
como caracteriza toda crise, a falência do velho pode abrir caminho
para uma revolução na cultura política do país, na forma de
exercer mandatos, na forma de ser governo e na forma deste se
relacionar com a sociedade. Há que se construir uma política nova
baseada em valores, em comportamentos republicanos e de sentido
ético.
A
vigilância cívica da cidadania pode dar uma resposta contundente
nas próximas eleições.
FAUSTO
MATTO GROSSO,
Professor
da UFMS, aposentado.
faustomt@terra.com.br
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